Acórdão nº 2007/0263272-5 de S1 - PRIMEIRA SEÇÃO

Data12 Agosto 2009
Número do processo2007/0263272-5
ÓrgãoPrimeira Seção (Superior Tribunal de Justiça do Brasil)

RECURSO ESPECIAL Nº 1.003.955 - RS (2007/0263272-5)

RELATORA : M.E.C.G.L. -M.F. E OUTROS
ADVOGADA : TÂNIA REGINA PEREIRA E OUTRO(S)
RECORRENTE : C.E.B.S.E.S
ADVOGADA : S.C.N.C. E OUTRO(S)
RECORRENTE : FAZENDA NACIONAL
PROCURADORES : R.P.G.D.S. E OUTRO(S)
C.X.S.F.
RECORRIDO : OS MESMOS

EMENTA

TRIBUTÁRIO E ADMINISTRATIVO - EMPRÉSTIMO COMPULSÓRIO SOBRE ENERGIA ELÉTRICA - DECRETO-LEI 1.512/76 E LEGISLAÇÃO CORRELATA - RECURSO ESPECIAL: JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE - INTERVENÇÃO DE TERCEIRO NA QUALIDADE DE AMICUS CURIAE - PRESCRIÇÃO: PRAZO E TERMO A QUO - CORREÇÃO MONETÁRIA - JUROS REMUNERATÓRIOS - JUROS MORATÓRIOS - TAXA SELIC.

  1. AMICUS CURIAE: As pessoas jurÃdicas contribuintes do empréstimo compulsório, por não contarem com a necessária representatividade e por possuÃrem interesse subjetivo no resultado do julgamento, não podem ser admitidas como amicus curiae.

  2. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE: Não se conhece de recurso especial: a) quando ausente o interesse de recorrer; b) interposto antes de esgotada a instância ordinária (Súmula 207/STJ); c) para reconhecimento de ofensa a dispositivo constitucional; e d) quando não atendido o requisito do prequestionamento (Súmula 282/STJ).

  3. JUÍZO DE MÉRITO DOS RECURSOS

  1. EMPRÉSTIMO COMPULSÓRIO DA ELETROBRÁS: CONVERSÃO DOS CRÉDITOS PELO VALOR PATRIMONIAL DA AÇÃO:

    1.1 CabÃvel a conversão dos créditos em ações pelo valor patrimonial e não pelo valor de mercado, por expressa disposição legal (art. 4º da lei 7.181/83) e por configurar-se critério mais objetivo, o qual depende de diversos fatores nem sempre diretamente ligados ao desempenho da empresa. Legalidade do procedimento adotado pela Eletrobrás reconhecida pela CVM.

    1.2 Sistemática de conversão do crédito em ações, como previsto no DL 1.512/76, independentemente da anuência dos credores.

  2. CORREÇÃO MONETÁRIA SOBRE O PRINCIPAL:

    2.1 Os valores compulsoriamente recolhidos devem ser devolvidos com correção monetária plena (integral), não havendo motivo para a supressão da atualização no perÃodo decorrido entre a data do recolhimento e o 1° dia do ano subseqüente, que deve obedecer à regra do art. 7°, § 1°, da Lei 4.357/64 e, a partir daÃ, o critério anual previsto no art. 3° da mesma lei.

    2.2 Devem ser computados, ainda, os expurgos inflacionários, conforme pacificado na jurisprudência do STJ, o que não importa em ofensa ao art. 3° da Lei 4.357/64.

    2.3 Entretanto, descabida a incidência de correção monetária em relação ao perÃodo compreendido entre 31/12 do ano anterior à conversão e a data da assembléia de homologação.

  3. CORREÇÃO MONETÁRIA SOBRE JUROS REMUNERATÓRIOS:

    Devida, em tese, a atualização monetária sobre juros remuneratórios em razão da ilegalidade do pagamento em julho de cada ano, sem incidência de atualização entre a data da constituição do crédito em 31/12 do ano anterior e o efetivo pagamento, observada a prescrição qüinqüenal. Entendimento não aplicado no caso concreto por ausência de pedido da parte autora. Acórdão reformado no ponto em que determinou a incidência dos juros de 6% ao ano a partir do recolhimento do tributo, desvirtuando a sistemática legal (art. 2°, caput e § 2°, do Decreto-lei 1.512/76 e do art. 3° da Lei 7.181/83).

  4. JUROS REMUNERATÓRIOS SOBRE A DIFERENÇA DA CORREÇÃO MONETÁRIA:

    São devidos juros remuneratórios de 6% ao ano (art. 2° do Decreto-lei 1.512/76) sobre a diferença de correção monetária (incluindo-se os expurgos inflacionários) incidente sobre o principal (apurada da data do recolhimento até 31/12 do mesmo ano). CabÃvel o pagamento dessas diferenças à parte autora em dinheiro ou na forma de participação acionária (ações preferenciais nominativas), a critério da ELETROBRÁS, tal qual ocorreu em relação ao principal, nos termos do Decreto-lei 1.512/76.

  5. PRESCRIÇÃO:

    5.1 É de cinco anos o prazo prescricional para cobrança de diferenças de correção monetária e juros remuneratórios sobre os valores recolhidos a tÃtulo de empréstimo compulsório à ELETROBRÁS.

    5.2 TERMO A QUO DA PRESCRIÇÃO: o termo inicial da prescrição surge com o nascimento da pretensão (actio nata), assim considerada a possibilidade do seu exercÃcio em juÃzo. Conta-se, pois, o prazo prescricional a partir da ocorrência da lesão, sendo irrelevante seu conhecimento pelo titular do direito. Assim:

    1. quanto à pretensão da incidência de correção monetária sobre os juros remuneratórios de que trata o art. 2° do Decreto-lei 1.512/76 (item 3), a lesão ao direito do consumidor ocorreu, efetivamente, em julho de cada ano vencido, no momento em que a ELETROBRÁS realizou o pagamento da respectiva parcela, mediante compensação dos valores nas contas de energia elétrica;

      b)quanto à pretensão de correção monetária incidente sobre o principal (item 2), e dos juros remuneratórios dela decorrentes (item 4), a lesão ao direito do consumidor somente ocorreu no momento da restituição do empréstimo em valor "a menor".

      Considerando que essa restituição se deu em forma de conversão dos créditos em ações da companhia, a prescrição teve inÃcio na data em que a Assembléia-Geral Extraordinária homologou a conversão a saber:

    2. 20/04/1988 - com a 72ª AGE - 1ª conversão; b) 26/04/1990 - com a 82ª AGE - 2ª conversão; e c) 30/06/2005 - com a 143ª AGE - 3ª conversão.

  6. DÉBITO OBJETO DA CONDENAÇÃO. CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS DE MORA:

    6.1 CORREÇÃO MONETÁRIA: Os valores objeto da condenação judicial ficam sujeitos a correção monetária, a contar da data em que deveriam ter sido pagos:

    1. quanto à condenação referente às diferenças de correção monetária paga a menor sobre empréstimo compulsório, e os juros remuneratórios dela decorrentes (itens 2 e 4 supra), o débito judicial deve ser corrigido a partir da data da correspondente assembléia-geral de homologação da conversão em ações;

    2. quanto à diferença de juros remuneratórios (item 4 supra), o débito judicial deve ser corrigido a partir do mês de julho do ano em que os juros deveriam ter sido pagos.

    6.2 ÍNDICES: observado o Manual de Cálculos da Justiça Federal e a jurisprudência do STJ, cabÃvel o cômputo dos seguintes expurgos inflacionários em substituição aos Ãndices oficiais já aplicados: 14,36% (fevereiro/86), 26,06% (junho/87), 42,72% (janeiro/89), 10,14% (fevereiro/89), 84,32% (março/90), 44,80% (abril/90), 7,87% (maio/90), 9,55% (junho/90), 12,92% (julho/90), 12,03% (agosto/90), 12,76% (setembro/90), 14,20% (outubro/90), 15,58% (novembro/90), 18,30% (dezembro/90), 19,91% (janeiro/91), 21,87% (fevereiro/91) e 11,79% (março/91). Manutenção do acórdão à mÃngua de recurso da parte interessada.

    6.3 JUROS MORATÓRIOS: Sobre os valores apurados em liquidação de sentença devem incidir, até o efetivo pagamento, correção monetária e juros moratórios a partir da citação:

    a)de 6% ao ano, até 11/01/2003 (quando entrou em vigor o novo Código Civil) - arts. 1.062 e 1.063 do CC/1916;

    b)a partir da vigência do CC/2002, deve incidir a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional. Segundo a jurisprudência desta Corte, o Ãndice a que se refere o dispositivo é a taxa SELIC.

  7. NÃO CUMULAÇÃO DA TAXA SELIC: Considerando que a taxa SELIC, em sua essência, já compreende juros de mora e atualização monetária, a partir de sua incidência não há cumulação desse Ãndice com juros de mora. Não aplicação de juros moratórios na hipótese dos autos, em atenção ao princÃpio da non reformatio in pejus.

  8. EM RESUMO:

    Nas ações em torno do empréstimo compulsório da Eletrobrás de que trata o DL 1.512/76, fica reconhecido o direito às seguintes parcelas, observando-se que o prazo situa-se em torno de três questões, basicamente:

    1. diferença de correção monetária sobre o principal e os juros remuneratórios dela decorrentes (itens 2 e 4);

    2. correção monetária sobre os juros remuneratórios (item 3);

    3. sobre o valor assim apurado, incidem os encargos próprios dos débitos judiciais (correção monetária desde a data do vencimento - item 6.1 e 6.2 e juros de mora desde a data da citação - item 6.3).

  9. CONCLUSÃO

    Recursos especiais da Fazenda Nacional não conhecidos. Recurso especial da ELETROBRÁS conhecido em parte e parcialmente provido. Recurso de fls. 416/435 da parte autora não conhecido. Recurso de fls. 607/623 da parte autora conhecido, mas não provido.

    ACÓRDÃO

    Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça "Prosseguindo no julgamento, a Seção, por unanimidade, não conheceu dos recursos especiais interpostos pela Fazenda Nacional e pelas empresas, às fls. 416/435, tendo, contudo, conhecido do recurso por elas interposto às fls. 607/623, mas lhe negado provimento.

    No que concerne ao recurso especial da Eletrobrás, a Seção, por maioria, o conheceu em parte e, nessa parte, deu-lhe parcial provimento, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Votaram vencidos, quanto à prejudicial de prescrição, os Srs. Ministros Benedito Gonçalves, Francisco Falcão, Humberto Martins e M.C.M. e, quanto às questões de mérito, os Srs. Ministros Benedito Gonçalves e Francisco Falcão e, em parte, o Sr. Ministro Herman Benjamin." Participaram do julgamento os Srs. Ministros Francisco Falcão, Teori Albino Zavascki, Castro Meira, Denise Arruda, Humberto Martins, Herman Benjamin, Mauro Campbell Marques e B.G.

    Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Luiz Fux.

    BrasÃlia-DF, 12 de agosto de 2009(Data do Julgamento)

    MINISTRA ELIANA CALMON

    Relatora

    ERTIDÃO DE JULGAMENTO

    PRIMEIRA SEÇÃO

    Número Registro: 2007/0263272-5 REsp 1003955 / RS

    Números Origem: 200271080065479 200271080152145 200704000223226

    PAUTA: 27/08/2008 JULGADO: 27/08/2008

    Relatora

    Exma. Sra. Ministra ELIANA CALMON

    Presidente da Sessão

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