A FALTA QUE FAZ UMA BANDEIRA

"A melhor lembrança que trouxe do Rio foi meu marido", disse Thereza Heinz Kerry, na época em que fazia campanha para o então candidato à Presidência dos Estados Unidos e usava o portunhol aprendido com os pais portugueses para conquistar o apoio dos latinos a John Kerry. O marido, hoje secretário de Estado, só tem boas lembranças do Brasil, é um senador culto e sofisticado, um craque em política internacional. Mas nada disso ajudou muito na visita-relâmpago a Brasília. A inclusão do Brasil entre os países alvos do programa americano de espionagem - revelada pelo GLOBO - azedou a conversa dos chanceleres, programada como só uma preparação do tapete vermelho para Dilma passar em Washington. A resposta dura do ministro Patriota ao secretário americano foi o final infeliz de um encontro que já começou errado. A atenção de Kerry estava voltada para a rodada de negociações do acordo de paz entre palestinos e israelenses, a aposta do secretário para fazer História. E ao Brasil, faltou agenda: afinal, o que quer o país da sua política externa?Fora dois ou três slogans, é difícil saber, repetem diplomatas em postos de comando ao redor do mundo.O Brasil está sem bandeiras na política externa. Desde o início do mandato da presidente Dilma Rousseff, a palavra da moda no Itamaraty era soft power - no popular, a arte de influenciar pessoas e fazer amigos. Na prática, isso significaria ocupar com suavidade novos espaços no mundo, ter uma presença na política internacional proporcional ao tamanho da economia brasileira. Sintonizado com o sentimento contemporâneo, o poder do país não seria medido pela força de mísseis e submarinos nucleares, mas percebido pela participação nos vários fóruns internacionais e pela defesa dos bons combates - liberdade de expressão, direitos humanos, meio ambiente, igualdade de gênero e raça.Isso é mais fácil falar do que fazer. Com a falta de gosto da presidente Dilma pela política externa e a falta de espaço do ministro Antonio Patriota no governo, a bandeira do soft power já foi encampada pelo discurso de oposição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. A ação externa brasileira era mais visível com o presidente Lula e o ministro Celso Amorim, época em que se abriram 40 novas embaixadas e criaram-se múltiplos fóruns - Unasul, Celac, Ibas, uma sopa de letras hoje já quase ignorada na cena internacional.Na hora de ocupar espaços, faltou mensagem. Projetar poder no cenário...

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT