Adiar o começo

miriamleitao@oglobo.com.brÉ um ano que começa no meio da semana. Na noite, você se animou enterrando o ano velho e entrando com esperança no novo. Abre o jornal - o tablet ou computador - e vem um banho de realismo econômico. Ninguém merece. Por isso, o melhor é começar adiando o início para amanhã, quando todos estaremos mais fortes para qualquer notícia.Amanhã será diferente. Dia dois é quinta-feira, que é perto de sexta, que é véspera do fim de semana. A gente tem tempo de digerir a notícia, seja a que for. Muita realidade no dia primeiro, quarta-feira, não deve ser bom para a saúde.O espumante da virada virou no estômago? Menos preparados estaremos então para conversar sobre temas como ajuste fiscal, perspectivas de crescimento, gargalos logísticos. Melhor relaxar, que a esta altura, tudo fechado, não vai acontecer nada que mude esses itens da nossa pauta diária.E se há um ajuste pessoal a ser feito no peso extra adquirido nos excessos do fim do ano? Ora, sempre há. Relaxe. Se o governo fez o ano inteiro relaxamento fiscal e o Fed fez relaxamento monetário, por que mesmo nós - que mal governamos a própria vida fiscal e monetária - não podemos relaxar um pouco sobre esses irritantes quilos a mais?Seria bom poder fazer um daqueles truques Arno. Não sabe o que é? É uma maravilha: problemas podem diminuir, sumir ou até virar virtudes. São fórmulas inventadas em Brasília de esconder os gastos, tornando alguns invisíveis e até transformando dívida em receita. A mágica, trazida a valores pessoais, faria desaparecer o indesejável sobrepeso que anda aumentando a contabilidade da nossa dívida bruta com a boa forma. E isso sem esforço nem nada. Basta mudar o registro. O truque Arno é igual a uma balança encantada; programada para nos dar a boa notícia que esperamos.A fórmula também seria útil para transformar o nosso déficit financeiro em superávit primário...