'O advogado já não ganha para responder perguntas'

Em 1989, 17 ex-governadores de estados americanos notaram que poderiam melhorar suas vidas profissionais. Advogados, eles pactuaram que um indicaria o escritório do outro para clientes que quisessem fazer negócios em outro estado. A ideia deu certo e eles foram buscar outros parceiros, uma banca por estado. A demanda dos clientes fez com que a rede se expandisse para outros países. Batizado de State Capital Group, e conhecida pela sigla SCG Legal, o coletivo de escritórios hoje está em mais de 90 países, com 145 bancas.

A missão principal do grupo continua a mesma: o cliente que quiser fazer negócio em outro estado ou em outro país, terá a indicação de um escritório confiável. A ideia é ter um por estado nos EUA e um por país no resto do mundo. No Brasil, o único associado é o Peixoto e Cury Advogados. A banca foi responsável por organizar um encontro internacional do grupo em junho, quando o presidente da SCG Legal, David Poisson, falou à revista Consultor Jurídico sobre a advocacia mundial.

Sua função e a conexão direta com a rede com mais de 10 mil advogados dão a Poisson uma boa visão do mercado. Ele sentencia que os Brasil é o mercado do momento, mas vai adiante: a África é o próximo grande destino da advocacia. São muitos os desafios de chegar e atuar lá, mas serão boas as recompensas. Os grandes escritórios estão indo para Joanesburgo, mas o continente tem muito mais a oferecer, diz o presidente da SCG.

Advogados, porém, não vão por vontade própria para os novos mercados, eles chegam lá porque seus clientes bolam novos negócios. As demandas são variadas e Poisson afirma que a busca por lobby tem aumentado — e que o movimento é contínuo. Nos EUA, a prática é comum no grupo, ainda mais porque seus criadores são ex-governadores, que pretendiam se manter na criação de políticas públicas.

Há resistência de alguns escritórios fora dos EUA a fazer lobby por clientes. A justificativa apresentada, porém, não se sustenta. “Dizem que o lobby coloca interesses privados à frente do interesse público. Mas advogar para um acusado de cometer um crime é exatamente isso”, rebate Poisson.

Entre os temas debatidos pelo grupo está a sucessão nos escritórios e a adaptação destes. O perfil dos advogados que chegam às bancas mudou, assim como o trabalho. A tecnologia e o maior acesso à informação fazem com que o cliente que antes chegava com uma pergunta e pagava o advogado pela resposta, agora chega com uma meta e paga para que o operador do Direito abra os caminhos para cumpri-la.

Leia a entrevista:

ConJur — Como foi criado o State Capital Group, hoje chamado de SCG Legal?

David Poisson — Formado por 17 ex-governadores dos Estados Unidos, começou com a ideia desses políticos que também eram advogados de voltar a atuar nos tribunais. Eles queriam oferecer aos seus clientes cobertura nacional, assim, um indicava o outro. Era para ser um grupo de referência, de indicações, mas acabou se tornando um grupo de apoio ao trabalho dos colegas.

ConJur — Era apenas nos EUA?

David Poisson — Sim. Foi assim que começou e cresceu até atingir os 50 estados. Não só com governadores, mas também com procuradores gerais dos estados e às vezes com o chefe do Legislativo. O grupo decidiu, então, levar para outros países, olharam mais ao norte, para o Canadá, e disseram “esse país se parece com o nosso, vamos tentar fazer a mesma coisa”.

ConJur — Isso foi feito por necessidade dos clientes?

David Poisson — Sim. Eles precisavam fazer negócios no Canadá, por conta do aumento das importações e exportações com o país vizinho, que continua a ser o principal parceiro comercial dos EUA. Uns 15 anos depois de a organização se formar, começou esse processo de internacionalização. Começaram a buscar, em cada país, o escritório que tivesse a melhor reputação. A ideia é ter parceiros originários dos países, que cresceram lá, entendem a economia e o mercado e têm licença para advogar no país. Nós não representamos, nem...

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