Religiões afro-brasileiras na Grande Florianópolis:origens históricas e afirmação social

AutorCristiana Azevedo Tramonte
CargoDoutora em Interdiciplinar em Ciências Humanas pela Universidade Federal de Santa Catarina. Professora do Departamento de Metodologia da Ensino da UFSC
Páginas79-106
1 Doutora em Interdiciplinar em Ciências Humanas pela Universidade Federal de Santa Catarina.
Professora do Departamento de Metodologia da Ensino da UFSC. Email: tramonte@ced.ufsc.br
RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS NA GRANDERELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS NA GRANDE
RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS NA GRANDERELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS NA GRANDE
RELIGIÕES AFRO-BRASILEIRAS NA GRANDE
FLORIANÓPOLIS: FLORIANÓPOLIS:
FLORIANÓPOLIS: FLORIANÓPOLIS:
FLORIANÓPOLIS: ORIGENS HISTÓRICAS EORIGENS HISTÓRICAS E
ORIGENS HISTÓRICAS EORIGENS HISTÓRICAS E
ORIGENS HISTÓRICAS E
AFIRMAÇÃO SOCIALAFIRMAÇÃO SOCIAL
AFIRMAÇÃO SOCIALAFIRMAÇÃO SOCIAL
AFIRMAÇÃO SOCIAL
Cristiana Tramonte1
Resumo: O artigo analisa a origem das religiões afro-brasileiras na Grande
Florianópolis na qual dois aspectos são relevantes: as práticas dos “curandeiros,
benzedores e feiticeiros” que estão na origem do surgimento dos primeiros
umbandistas e sua relação com as práticas alternativas de saúde, motor principal
e central que justificou e impulsionou esta forma de organização social e espiritu-
al. Abordaremos esta perspectiva quando confrontada com as concepções
hegemônicas da época, principalmente da Medicina Oficial e do saneamento pú-
blico configurado na “missão higienizadora” das primeiras décadas. Este redefiniu
valores, normas de conduta e espaços físicos e sociais e esteve na base da re-
pressão aos cultos afro-brasileiros no princípio do século XX.
Palavras-chave: Religiões Afro-Brasileiras; Saúde popular; Grande Florianópolis.
Abstract: This article investigates the origin of Afro-Brazilian religions in the
region of Grande Florianópolis by focusing on two relevant aspects, namely the
practices of healers, shamans, and sorcerers, which are in the origin of the
appearance of the first practitioners of Umbanda, and their relation with alternative
health care, which was the main driving force that justified and fostered this form
of social and spiritual organization. The research concentrates on the period when
these Afro-Brazilian religions were confronted by the hegemonic conceptions of
the Official Medicine and public sanitation expressed in the ‘hygienizing mission’
of the first decades of the twentieth century. These conceptions redefined values,
rules of behavior, and social and physical spaces, which formed the basis of the
repression against the Afro-Brazilian religious cults in the beginning of the twentieth
century.
Keywords: Afro-Brazilian Religions; Public Healthcare; Grande Florianópolis
region.
80 REVISTA ESBOÇOS Volume 17, Nº 23, pp. 79-106 — UFSC
Para compreendermos a origem das religiões afro-brasileiras na Grande
Florianópolis, dois aspectos são relevantes: as práticas dos “curandeiros, benze-
dores e feiticeiros”, que estão na origem do surgimento dos primeiros umbandis-
tas e sua relação com as práticas alternativas de saúde, motor principal e central
que justificou e impulsionou esta forma de organização social e espiritual. Abor-
daremos esta perspectiva quando confrontada com as concepções hegemônicas
da época, principalmente da Medicina Oficial e do saneamento público configu-
rado na “missão higienizadora” das primeiras décadas. Este redefiniu valores,
normas de conduta e espaços físicos e sociais e esteve na base da repressão aos
cultos afro-brasileiros no princípio do século XX.
AS PRÁTICAS RELIGIOSAS DA POPULAÇÃO NEGRA NO SÉCULO
XIX EM DESTERRO
Quando falamos de práticas religiosas da população negra em Desterro,
não podemos esquecer o papel das Irmandades. Estas cumprirão um papel fun-
damental tratando de organizar os negros para participarem das festas religiosas
da Igreja Católica. O Código de Posturas de Desterro, Lei 222, de 10 de maio de
1845 “proibia os ajuntamentos de escravos ou libertos [...] que tiverem por obje-
tivo os soutos reinados africanos” e vetou até mesmo os ternos-de-reis organiza-
dos por negros. Mortari2 demonstra que a Irmandade de Nossa Senhora do Ro-
sário e São Benedito dos Homens Pretos, fundada por volta de 1750, tratará de
garantir a oportunidade para o encontro deste grupo e será um espaço, ora de
controle por parte da hierarquia católica, ora de resistência, permitindo que o
grupo negro participasse de festividades, nas quais era possível o relacionamento
entre escravos livres e libertos e a circulação pela cidade.
Estas expressões do catolicismo popular praticadas pelos negros são fun-
damentais para compreender a origem da formação das religiões afro-brasileiras
em Florianópolis. O Cacumbi, por exemplo, caracteriza-se pela intercalação de
temas católicos com uso de palavras africanas, o que permanece na formação do
sincretismo religioso afro-brasileiro. A contribuição das manifestações do catoli-
cismo popular em Florianópolis foi principalmente no sentido de abrir caminhos à
expressão religiosa dos negros, mais tarde diversificada e autônoma em relação
à Igreja Católica, como o candomblé e alguns segmentos da Umbanda.
No Brasil, a primeira “roça”3 de candomblé de que se tem notícia localiza-
se na Bahia e data de 1830. Nesta época em Desterro se tem notícia apenas da
prática de “feitiçaria”. Cabral analisa essas práticas em suas obras destinadas ao
estudo da medicina oficial, teológica, benzedores e aos “charlatães”, como deno-
mina indiscriminadamente a todos aqueles que não fazem parte deste grupo e
exercem práticas populares de saúde4. Em relação às “práticas de feitiçaria” no

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT