para analistas, julgamento deve ser exemplo, não caso isolado
Especialistas alertam sobre o padrão da justiça em outros casos
Sérgio Roxo, Silvia Amorim e
Thiago Herdy
opais@oglobo.com.br
Mensalão
SÃO PAULO
O julgamento do mensalão trouxe avanços, mas não pode entrar para a História apenas como um caso de exceção à regra. A opinião é de cientistas políticos ouvidos ontem para comentar o legado que a ação penal 470 deixa para o país. Na opinião deles, resta esperar, por exemplo, qual será o padrão de comportamento a ser adotado durante o julgamento do mensalão tucano.
- Até então, políticos conseguiam se safar de processos de caixa 2 e crimes do colarinho branco. Nesse sentido, é um marco. O que se espera é que, de fato, esse marco não seja solitário e, a partir de agora, se crie uma norma que seja universal. Isso poderá ser verificado em breve, no julgamento futuro do mensalão tucano - disse o professor de Ciência Política Fernando Antônio de Azevedo, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Para o titular de Teoria Política da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), Paulo Ribeiro da Cunha, o maior legado que o julgamento do mensalão pode deixar vai além da análise sobre o caso do mensalão do PSDB. Centenas de processos referentes a casos de corrupção tramitam na Justiça e, para ele, é a avaliação desses episódios que poderá dizer se a postura da Justiça neste caso foi ou não uma exceção:
- É inegável que altos escalões da política indo para a cadeia não é pouco e representa um avanço para um país como o Brasil, pouco acostumado a esse tipo de punição. Mas o julgamento do mensalão também deixou claro que o país está diante de um impasse quanto ao funcionamento de uma das suas maiores instituições: o Judiciário, que precisa urgentemente de uma reforma. Existem muitas ações judiciais sobre casos de corrupção espalhadas pelos tribunais. Espero que o julgamento do mensalão sirva de exemplo para que esses crimes não continuem impunes. Essa seria a melhor lição.
"gosto amargo de impunidade"
Azevedo também destacou a necessidade de mudanças na Justiça, a começar pelo número de recursos, que, muitas vezes, inviabilizam qualquer chance de condenação final.
- É uma corrida de obstáculos, nesse sentido não tenho muita esperança de que as coisas sejam diferentes. Ou muda-se o sistema, ou a sensação de impunidade continuará, com essa perspectiva de 15, 20 anos de julgamento e crimes prescrevendo - afirmou.
Apesar de ter sido o maior julgamento da História do país, o sentimento de impunidade prevalece na...
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