O 'Pacto Áureo' e a atuação do movimento espírita mineiro na reestruturação do campo espírita brasileiro

AutorRaquel Marta Silva
CargoDoutora em História Cultural pela Universidade Federal de Santa Catarina
Páginas51-77
1 Este trabalho é uma adaptação de parte da tese de Doutorado da autora, entitulada: Representações e
lutas de poder na construção da “Minas Espírita”: Da União Espírita Mineira a Francisco Cândido Xavier, 1930-
1960. Tese de Doutorado em História. Florianópolis, Universidade Federal de Santa Catarina, 2008.
2 Doutora em História Cultural pela Universidade Federal de Santa Catarina. E-mail:
raquelmsil@gmail.com
O “PACTO ÁUREO” E A AO “PACTO ÁUREO” E A A
O “PACTO ÁUREO” E A AO “PACTO ÁUREO” E A A
O “PACTO ÁUREO” E A ATUAÇÃO DO MOVIMENTOTUAÇÃO DO MOVIMENTO
TUAÇÃO DO MOVIMENTOTUAÇÃO DO MOVIMENTO
TUAÇÃO DO MOVIMENTO
ESPÍRITESPÍRIT
ESPÍRITESPÍRIT
ESPÍRITA MINEIRO NA REESTRUTURAÇÃO DO CAMPOA MINEIRO NA REESTRUTURAÇÃO DO CAMPO
A MINEIRO NA REESTRUTURAÇÃO DO CAMPOA MINEIRO NA REESTRUTURAÇÃO DO CAMPO
A MINEIRO NA REESTRUTURAÇÃO DO CAMPO
ESPÍRITESPÍRIT
ESPÍRITESPÍRIT
ESPÍRITA BRASILEIROA BRASILEIRO
A BRASILEIROA BRASILEIRO
A BRASILEIRO11
11
1
Raquel Marta da Silva2
Resumo: Este trabalho problematiza as práticas discursivas e as lutas de repre-
sentação empreendidas pelos líderes da União Espírita Mineira, na reestruturação
do campo espírita brasileiro. Esta instituição religiosa foi fundada em Belo Hori-
zonte, em 1908 e, ao longo da primeira metade do século XX, ao se apropriar das
representações da “mineiridade”, procurou divulgar a ideia de que o estado de
Minas Gerais era responsável pela unificação e harmonização do campo espírita
brasileiro.
Palavras-chave: Espiritismo; “Pacto Áureo”; Campo Espírita Brasileiro; Minas
Gerais
Abstract: This work has as objective the understanding of the discursive practice
and the fights of representation undertaken by the leaderships of “União Espírita
Mineira”, in the restructuring of the Brazilian Spiritist religious field. This religious
institution was established in Belo Horizonte, Brazil, in the beginning of the XX
century, and at that time, by appropriating the representations of “mineiridade”
(the Minas “identity”), the spiritist leaders sought to spread the idea that the state
of Minas Gerais was responsible for the unification and harmonization of the
Brazilian spiritist field.
Key-words: Spiritism; Spiritist “Golden Covenant”; Minas Gerais; Brazil
A ideia da unificação dos Espíritas partiu de Minas Gerais.
Partiu do Primeiro Congresso Espírita realizado de 16 a 24 de
junho de 1944 (...). Em São Paulo, no Congresso de 5 de no-
vembro de 1948, que de regional alterou-se para nacional –
52 REVISTA ESBOS Volume 17, Nº 23, pp. 51-77 — UFSC
Congresso Brasileiro de Unificação Espírita – o tema foi o
mesmo, porque o mesmo era o anseio de todos. (...). Minas
Gerais compareceu representada por digna e heróica repre-
sentação. Aliás, a que, juntamente com a do Rio Grande do Sul
e de São Paulo, mais teve o que fazer. E a unificação é, ainda,
para mineiros e paulistas, o ideal de hoje e de sempre.
Leopoldo Machado
Os estudos que tratam do espiritismo francês demonstram que os “fenô-
menos espíritas” que deram origem ao Kardecismo tiveram início na primeira
metade do século XIX, nos salões da alta sociedade norte-americana, onde “mo-
vimentos aleatórios das mesas girantes e falantes” eram exibidos como objeto de
curiosidade e de divertimento.3 Da América, tais fenômenos se expandiram e
chegaram até as festas dos grandes salões europeus. Para alguns, esses fenô-
menos também se tornaram um divertimento, mas para outros, foram considera-
dos “paranormais”, por isso, logo se transformaram em objeto de estudo. Esse foi
o caso do francês Hippolyte Leon Denizard Rivail, que, ao pesquisar tais fenô-
menos, criou uma teoria considerada científica, filosófica e religiosa: o espiritis-
mo. Ao publicar seus livros adotou o pseudônimo de Allan Kardec.4
Já na segunda metade do século XIX, da França, esse movimento chegou
até o Brasil, onde se disseminou de forma vertiginosa. Ao se fazer um balanço
bibliográfico a respeito desse assunto, logo se constata que, aqui, os debates
acerca desta temática há tempos vêm sendo realizados por várias áreas do co-
nhecimento: a Antropologia e a Sociologia,5 por exemplo, já desenvolveram im-
portantes investigações referentes a essa prática religiosa, analisando-a a luz de
suas reflexões teóricas. A História – na maioria das vezes, dialogando com essas
áreas – também tem lançado seu olhar para essa temática, procurando compre-
endê-la, sobretudo, a partir das suas práticas e representações.6
A partir da análise das pesquisas que abordam esta temática, pode-se con-
cluir que foi um pequeno grupo formado, sobretudo, por imigrantes franceses –
que ainda se mantinham ligados ao seu país e viviam sob a influência das princi-
pais correntes científicas migradas da Europa7 – que introduziu a doutrina no Rio
de Janeiro. De acordo com Santos,
(...) [os livros, as ideias e] as práticas do espiritismo chegaram
da França ao Brasil fazendo o mesmo caminho que já tinha ser-
vido para aqui disseminar as mesas girantes, das quais no país
já se dava notícia em 1853. [Mas,] o interesse pelo espiritismo
foi além das mesas girantes e tampouco ficou restrito aos mem-
bros da colônia francesa (...) difundindo-se por setores das
elites do país, notadamente, na capital do Império e na Bahia.8

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