Características da estrutura produtiva e do padrão de concorrência da indústria de software no Brasil

AutorJosiane Gutierrez Correia, Felipe Ferraz Vasquez, Silvio Antonio Ferraz Cario
CargoMestre em Economia pela Universidade Federal de Santa Catarina - Mestre em Economia pela Universidade Federal de Santa Catarina - Professor dos Cursos de Graduação e Pós-graduação em Economia e Administração da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Páginas108-140

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Josiane Gutierrez Correia1

Felipe Ferraz Vasquez2

Silvio Antonio Ferraz Cario3

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1. Introdução

A partir da década de 70, temse o início de um novo paradigma tecnoprodutivo, que traz consigo grandes modiicações no cenário econômico, onde a informação e o conhecimento permitem que setores e atividades sejam criados ou rejuvenescidos. Dentre os novos setores, destacase o software que igura como parte integrante da Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC), esta caracterizada por um conjunto interligado de inovações em computação eletrônica, engenharia de software, sistemas de controle, circuitos integrados e telecomunicações. A indústria de software, através de seus produtos e serviços, penetra em diferentes setores e atividades econômicas, possibilitando processar, armazenar e transferir informações com ganhos em redução de custos, diminuição do tempo, aumento de sinergias, rapidez nas decisões, entre outros.

Apesar desta indústria no Brasil mostrar maior dinamismo somente a partir dos anos 90, tem contribuído de forma signiicativa para o país igurar em 13º. lugar no ranking do mercado mundial de TIC, expresso pelo movimento inanceiro da ordem de US$ 9,0 bilhões no ano de 2006, entre 15 países selecionados. Com forte direcionamento para o mercado doméstico, dado que as exportações se situam em torno de 1 a 2% das vendas, esta indústria vem, nos últimos anos, crescendo entre 10 a 20% ao ano, expressando dinamismo compatível com as características do novo paradigma tecnoprodutivo. Em face de tal ocorrência, tornase relevante analisar a estrutura desta indústria, o padrão de concorrência e o desempenho econômico recente no Brasil.

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No intuito de alcançar este propósito, o presente texto está dividido em 6 seções, sendo que, nesta 1ª. seção, apresentase o objetivo principal; na 2ª. seção, caracterizase a indústria de software, discutindo os seus atributos e os signiicados dos produtos e serviços; na 3ª. seção, evidenciamse os aspectos da dinâmica produtiva e do processo concorrencial desta indústria; na 4ª. seção, apresentase a posição do Brasil no mercado internacional de software; na 5ª. seção expõemse as características desta indústria no país; e, por im, na 6ª. seção temse a conclusão.

2. Indústria de software: significado e classificação

Nas últimas décadas do século XX, o desenvolvimento da microeletrônica e de uma base de tecnológica comum a produtos e serviços agrupou indústrias, setores e segmentos, formando o “complexo eletrônico”, que em articulação com a tecnologia da informação impôs virtuoso crescimento econômico na economia mundial. A tecnologia da informação, de acordo com Gutierrez e Alexandre (2004, p. 14), compreende todas as formas de criar, guardar, trocar e usar informação, em qualquer de suas formas, nascida da conluência entre informática e telecomunicações, cujo mercado encontrase dividido em: hardware, software e serviços.

O hardware é constituído por componentes eletrônicos, circuitos integrados e placas que se comunicam por barramentos, formando a parte física do computador. O software, por sua vez, consiste na parte lógica – um conjunto de dados e instruções codiicados em linguagem de computador – programas – que são lidos e processados pelos circuitos eletrônicos do hardware (microprocessadores), os quais transmitem comandos que serão por este executado, possibilitando a utilização do equipamento (MELO e CASTELLO BRANCO, 1997).

Para Ribeiro (2001), o software é um dispositivo que armazena o conhecimento de maneira seqüencial, obedecendo a um padrão de funcionamento lógico conforme sua programação. Por isso, seu processo produtivo é intensivo na utilização de mãodeobra qualiicada, cujas bases são o conhecimento humano presente e acumulado. Sua presença ultrapassa os limites do complexo eletrônico, fazendose presente em praticamente todos os setores da atividade humana, possibilitando a au-

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tomatização de tarefas rotineiras, o controle de processos e o aumento de eiciência, bem como a identiicação de falhas antes mesmo que estas ocorram (GUTIERREZ e ALEXANDRE, 2004).

A indústria de software supera, portanto, a posição de coadjuvante da indústria de hardware, passando a assumir um papel central nas transformações advindas das tecnologias da informação e comunicação; tornandose um dos elementos essenciais do novo paradigma tecnoprodutivo. Assim, com o aumento das atividades cujo processo produtivo baseiase na informação e no conhecimento, houve um deslocamento do “centro de gravidade” do hardware em direção ao software e serviços intensivos nos insumos do novo paradigma. Diante disso, ao produzir um bem intermediário central para a economia digital, o papel desempenhado pela indústria de software mostrase tão importante quanto o papel da indústria de capital para o desenvolvimento da indústria metalmecânica nas décadas anteriores (ATHEREYE, 2005 apud ROSELINO, 2006).

Uma particularidade do software é que o mesmo apresenta simultaneamente um duplo papel: como produto e também como um veículo que conduz a outros. Sua ação, no primeiro caso, dependerá de onde está inserido, se armazenado em um hardware de computador pessoal – onde permitirá a utilização do mesmo – ou em um computador de grande porte ou celular –, onde estará responsável por produzir, gerenciar, adquirir, modiicar, exibir ou transmitir a informação. Ao atuar como veículo condutor, poderá desempenhar a função de base do controle do computador (sistema operacional), comunicador da informação (rede) ou mesmo criador e controlador de outros programas (ferramentas de software e desenvolvimento) (PRESSMAN, 2001; apud VAZQUEZ, 2007).

Ao não se apresentar como produto físico, mas como um produto lógico, três características distinguem o software do hardware, segundo PRESSMAN, (2001) apud ROSELINO (2006): a) por não se tratar de um produto manufaturado, o software é planejado e desenvolvido, cujos custos estão concentrados na fase de engenharia ou design; b) o software não sofre depreciação física ou desgaste, sendo as possíveis falhas resultados de deiciências no seu design; c) por apresentar metodologias de desenvolvimento recente, sua produção é majoritariamente manual. Frente a isso, o processo produtivo do software consiste na reunião de informações em uma seqüên-

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cia de comandos lógicos de forma a codiicar e sintetizar o conhecimento gerado, não se utilizando de matériasprimas consumíveis.

A grande diversidade da indústria de software permite que esta tenha diversos modelos de negócios, conforme exposição no Quadro 1. Para Gutierrez e Alexandre (2004), existem 3 categorias principais: produtos, serviços e embarcados. Os produtos de software são subdivididos em quatro formas: 1ª.) classiicação técnica, 2ª.) inserção no mercado, 3ª.) formas de comercialização, e 4ª.) plataforma na qual se encontra.

A primeira forma, classiicação técnica, objetiva a distinção de acordo com sua função na máquina. Assim, identiicamse softwares de infraestrutura, ferramentas e aplicativos. Os programas relacionados à infraestrutura estão inseridos na máquina e permitem a execução dos outros tipos de softwares. Deste modo, são responsáveis pelo controle e acesso aos recursos do hardware do sistema e pela realização de funções básicas, possibilitando a execução de todos os outros softwares. Aqueles na categoria de ferramentas são programas que auxiliam a construção de outros programas e aplicativos, dentre os quais temos softwares voltados para: (i) linguagens de programação; (ii) gerenciamento de desenvolvimento; (iii) modelagem de dados; (iv) business intelligence (BI); (v) data warehouse; (vi) ferramentas de internet. Por im, em aplicativos temse softwares destinados à execução de uma determinada tarefa, cuja relação com o usuário inal é direta, sendo necessário que sua interface seja intuitiva para facilitar o uso. A segunda forma, inserção no mercado, do software dividese em horizontal e vertical. O software horizontal inclui aqueles que podem ser utilizados por qualquer usuário, sendo necessários para a sua construção apenas conhecimentos de informática. Nesta categoria se encontram todos os softwares de infraestrutura, ferramentas e aplicativos genéricos, como editores de texto, planilhas, editores gráicos, agendas etc. Por outro lado, o software vertical se relaciona com o tipo de usuário ou a atividade por ele desenvolvida. Sua construção requer, além de conhecimentos de informática, conhecimentos especíicos da atividade ou negócio do usuário. São exemplos de software vertical os sistemas de administração hospitalar, bancos, telecomunicação, aviação, projetos de circuitos integrados, previsões meteorológicas etc.

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[QUADRO EM PDF ANEXO]

Quadro 1 – Classiicações do software – modelo de negócios

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A terceira forma constituída de software se expressa pela comercialização, sendo dividido em padronizado, customizado e sob encomenda. O software padronizado caracterizase por ser de uso geral, cuja criação não é direcionada a um cliente exclusivo, o que permite que se alcance um grande número de clientes. Não há interação direta entre o usuário e aqueles que desenvolvem o software durante a confecção do produto (FREIRE, 2002, p.20). O crescimento deste ocorre no inal da década de 80, quando o microcomputador, ao ser combinado com um sistema operacional, facilita o desenvolvimento de aplicativos. Esta categoria possui características mais próximas a produtos industrializados, sendo sua comercialização usualmente feita como produtos de prateleira, exigindo grande volume de investimentos em canais de...

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