Um diálogo entre o Pensamento Descolonial e a Antropologia Jurídica: elementos para o resgate dos saberes jurídicos subalternizados.

AutorThais Luzia Colaço - Eloise da Silveira Petter Damázio
CargoGraduada em História (1983) e Direito (1992), Mestre em História (1989) e Doutora em Direito (1998) ambos pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). - Possui graduação em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí (2005). Atualmente é doutoranda em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e bolsista do CNPq.
Páginas85-110
Um diálogo entre o Pensamento Descolonial e a
Antropologia Jurídica: elementos para o resgate
dos saberes jurídicos subalternizados
Thais Luzia Colaço1
Eloise da Silveira Petter Damázio2
Resumo: O presente artigo propõe uma abor-
dagem sobre o estudo da Antropologia Jurí-
dica associado à perspectiva da descolonia-
lidade com o objetivo de demonstrar como
essa associação contribui para uma descolo-
nialidade do poder e do saber no âmbito ju-
rídico. A reflexão sobre a colonialidade se dá
a partir do Pensamento Descolonial, o qual
proporciona novas perspectivas para o mun-
do das ciências sociais e das humanas, confi-
gurando “outros lugares” para a produção de
conhecimento. Por fim, apresenta uma análi-
se da Antropologia Jurídica com a intenção
de verificar como ela, associada aos estudos
da descolonialidade, significa não somente
uma ferramenta que possibilita a crítica dos
discursos dominantes, mas também represen-
ta uma alternativa para falar sobre “mundos
e conhecimentos de outra maneira”.
Palavras-chave: Pensamento Descolonial. An-
tropologia Jurídica. Colonialidade do saber.
Abstract: The present paper proposes an
approach about the study of the Legal An-
thropology associated with the perpective
of the decoloniality, the objective is to des-
cribe how this association contributes to a
decoloniality of the power and the knowled-
ge in the legal sphere. The reflection about
the coloniality comes from the Decolonial
Thinking, this thinking provides new pers-
pectives to the world of the social sciences
and humanities, configuring “other places”
to the production of knowledge. Finally, it
presents an analysis of the Legal Anthropo-
logy with the intention to verify how this,
associated with the studies about the deco-
loniality, means not only a tool that enables
criticism of the dominant discourse, but
also represents an alternative to speak about
“worlds and knowledges otherwise”.
Keywords: Decolonial Thinking. Legal An-
thropology. Coloniality of knowledge
1 Graduada em História (1983) e Direito (1992), Mestre em História (1989) e Doutora em
Direito (1998) ambos pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Professora dos
cursos de graduação e pós-graduação de Direito da Universidade Federal de Santa Catarina.
E-mail: thais@ccj.ufsc.br.
2 Possui graduação em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí (2005). Atualmente é
doutoranda em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e bolsista do CNPq.
E-mail: eloisepetter@yahoo.com.br.
Doi:10.5007/2177-7055.2010v31n61p85
Um diálogo entre o Pensamento Descolonial e a Antropologia Jurídica: elementos para o resgate dos saberes jurídicos
subalternizados
86 Seqüência, n. 61, p. 85-109, dez. 2010
1. Introdução
A noção de “colonialismo” denota uma relação na qual a soberania
de um povo reside no poder de outro povo, ou nação. O Pensamento Des-
colonial desenvolve a ideia de “colonialidade”, que se refere a um padrão
de poder que emergiu como resultado do colonialismo moderno e tem
uma implicação fundamental: a concepção de que o mundo não foi com-
pletamente descolonizado. A primeira descolonização iniciada no século
XIX foi incompleta, uma vez que se limitou à independência política das
periferias. Ao contrário, a segunda descolonização, que diz respeito à ca-
tegoria descolonialidade, deverá dirigir-se às múltiplas relações, inclusive
às epistêmicas, que a primeira descolonização deixou intactas.
A partir da constatação de que a colonialidade persiste, ou que o
mundo ainda é colonizado, considera-se urgente uma perspectiva descolo-
nial epistêmica na esfera de todas as ciências, inclusive na esfera jurídica,
direcionada principalmente para o resgate dos saberes que foram silencia-
dos pela colonialidade. Nesse sentido, o presente trabalho busca desenvol-
ver um diálogo entre o Pensamento Descolonial e a Antropologia Jurídica.
O que se objetiva com essa pesquisa é problematizar como esses
dois campos de estudos, que se direcionam aos saberes “outros”, podem
dialogar e, assim, proporcionar elementos que contribuam para o apare-
cimento dos saberes “outros” subalternizados. Mais especificamente, no
sentido de possibilitar um resgate dos saberes jurídicos que foram subal-
ternizados de forma a visibilizá-los no atual cenário acadêmico e, assim,
contribuir para uma descolonialidade do saber e do poder.
Para iniciar um possível caminho em direção ao objetivo geral pro-
posto, o presente artigo está dividido em três partes, cada qual correspon-
dendo a um determinado objetivo específico.
Busca-se inicialmente estabelecer e definir os termos-chave do Pen-
samento Descolonial. Nesse sentido, será indispensável aprofundar os
conceitos de colonialidade do poder e também de colonialidade do saber.
Resumidamente, o primeiro é entendido como a inter-relação entre modos
modernos de dominação e, o segundo, como formas de subalternização
dos saberes, na medida em que estes não correspondem aos parâmetros

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