A fabricação do lápis

Cacá Diegues

Claudio Duarte

Quem vota no Oscar não são os sábios do cinema. Quem escolhe os vencedores são os profissionais do maior e mais poderoso centro cinematográfico do mundo, os produtores, diretores, escritores, técnicos e intérpretes de Hollywood.

Embora tenha sido inventado para afagar o ego de suas estrelas com um selo de qualidade, o Oscar é, antes de tudo, uma festa em que membros de uma comunidade vestem suas roupas mais finas para se aplaudirem uns aos outros. Uma celebração de seu ofício; menos do que a consagração de qualidade, o Oscar é uma indicação de tendências.

A festa deste ano foi particularmente sugestiva, expondo as mudanças que, ao longo do tempo, Hollywood vem sofrendo. Jean-Luc Godard dizia que, quando cineastas passam a se encontrar constantemente, surge uma revolução no cinema de seu país. Menos no cinema americano, onde eles sempre estiveram se encontrando, da cantina diária do estúdio ao Kodak Theatre anual. As revoluções no cinema americano se dão com sussurros e não com explosões, com palmas e não com ranger de dentes.

Vamos combinar que o justo anti-imperialismo, o esforço contra a hegemonia de uma cultura sobra as outras, não pode virar um racismo contra tudo que vier dos Estados Unidos. Seria mais ou menos o que fazem os conservadores fundamentalistas americanos contra negros, árabes, latinos. O mesmo racismo irracional que não nos permitiria gostar de Coppola ou Scorsese, de Paul Thomas Anderson ou Gus Van Sant.

A mítica Hollywood da economia vertical dos estúdios, onde os filmes eram criados, realizados, distribuídos e exibidos por uma mesma empresa (as Majors ), já acabou há algum tempo. Hoje, essa poderosa máquina industrial se adapta ao mundo moderno globalizado, concentrando seu poder financeiro como banco de investimento e descentralizando suas decisões entre "independentes" de vários tipos e gostos. E isso não se dá apenas no cinema.

Cinco dos seus seis principais estúdios ainda são americanos, só a Columbia é japonesa. Mas mesmo aqueles cinco são objeto de investimentos vindos da área do Golfo, da India, da Europa e da própria China (via Hong Kong). Recentemente, por exemplo, o grupo indiano Reliance abriu as portas de Hollywood comprando parte significativa da Minimajor De Steven Spielberg, a DreamWorks.

Na música, das quatro Majors só a Warner é americana - a EMI é britânica; a Universal, francesa; e a Sony, japonesa. Na edição de livros, a líder de produção e vendas, a Random House, é...

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