Dos porões da Câmara

Documentos secretos agora tornados públicos atestam espionagem a políticos de 1947 a 1976Evandro Ébolieboli@bsb.oglobo.com.brEspião-mor. O general Carlos Alberto Fontoura, à esquerda, é empossado chefe do SNI pelo presidente Costa e Silva: atento aos telefonemas dos deputadosArquivo/14-4-1969Memórias dos anos de chumboBRASÍLIA Documentos secretos arquivados na Câmara dos Deputados, desclassificados, e agora liberados, comprovam que parlamentares tinham a vida bisbilhotada pelo regime militar e ainda revelam caso de espionagem americana em águas territoriais brasileiras. Os papéis ficaram guardados por mais de 40 anos, sem direito à consulta pública por conta de carimbos que estampavam a classificação de sigilo. Entre eles, documento de 1968 trata da operação que resultou na abordagem de um navio espião americano, o North Seal, na costa brasileira naquele ano. O alvo dos "piratas" era o petróleo brasileiro. Os dados que coletaram e rolos de filme foram apreendidos pela Marinha. Muitos dos documentos que a Câmara liberou são resultado de pedidos de informação feitos pelos parlamentares. Os pedidos foram respondidos em caráter sigiloso e confidencial, e o conteúdo, arquivado sem divulgação.Em outubro de 1968, em resposta à Câmara, o então ministro da Marinha, Augusto Rademaker, informou que o navio americano partiu de Buenos Aires e percorreu a costa brasileira realizando pesquisas sismográficas irregulares sobre mapeamento de possíveis reservas de petróleo. O documento revela que foram apreendidas nove cartas náuticas, 12 caixas com 117 rolos de fita magnética e dois cartuchos contendo gráficos. Nas "considerações", Rademaker fez propaganda da sua Força. "A retenção do navio veio demonstrar que o monopólio estatal do petróleo jamais foi tão eficazmente defendido". A notícia da detenção do navio chegou a ser divulgada na época, mas não o relato sigiloso da Marinha confirmando a espionagem. Todo o material apreendido foi repassado à Petrobras.Os arquivos mostram que a ditadura também fiscalizava o próprio Congresso, à revelia dos parlamentares. Ofício confidencial assinado pelo general Carlos Alberto Fontoura, então chefe do SNI, alerta a Câmara para o "uso indevido de telefones" por parte de dois deputados da Arena. Sem autorização judicial, o SNI teve acesso às contas telefônicas e listou centenas de ligações interurbanas feitas das residências dos deputados, mas debitadas nos números de seus gabinete. O deputado José Raimundo Esteves (AM) fez 332 chamadas...

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