EDUARDO GRAÇA, de Nova York

Remédios para a criseCom notáveis exceções, a Broadway é assumidamente feliz, um reduto de espetáculos escapistas, um teatro comercial dedicado a fazer emocionar e rir sem grandes pretensões filosóficas. Pois a difícil tarefa da ourivesaria do banal, quando em vez, consegue explodir, nos palcos mais óbvios da cidade, a alegria mais real. Em tempos de crise econômica, desespero em Wall Street, desemprego recorde e queda do valor dos imóveis na cidade (uma reportagem neste fim de semana destacava o fato de o metro quadrado comercial no Rio já estar mais caro do que o de Manhattan), "Anything goes" é um antídoto que se toma com imenso prazer.A encarnação atual do clássico de 1934, vencedor este ano de três Prêmios Tony (entre eles o de remontagem de musical e coreografia, de tirar o fôlego do espectador mais incauto) é, acima de tudo, o espetáculo de Sutton Foster. É dela o outro justíssimo Tony de "Anything goes", o de melhor atriz de um musical, pelo que consegue fazer com as músicas imortais de Cole Porter e com sua Reno Sweeney, uma cantora de cabaré com o condenável passado de missionária evangélica, encarnada originalmente pela legendária Ethel Merman (dois anos depois ela repetiria a dose na primeira versão cinematográfica, ao lado de Bing Crosby), que, diz a lenda, fez muita gente afogar as amarguras da Grande Depressão no velho teatro Alvin (hoje rebatizado Neil Simon), na rua 52.Quase um século depois, e no Sondheim, na 43, o público acompanha emocionado a melodia de "Anything goes", "You're the top" e "I get a kick out of you", clássicos de Porter criados especialmente para o espetáculo, passado em um navio que zarpa de Nova York em direção à Londres do entre-guerras, repleto de gângsteres, moças saidinhas, caçadoras de fortunas, novos-ricos e ex-milionários transmutados em pés-rapados com o crash de 1929.Há ainda "All through the night", "Easy to love", "It's de-lovely" (originalmente criada para o musical "Red hot and blue", de 1936) e uma surpreendente versão de "Blow, Gabriel, blow", em que a trupe afiada do Roundabout Theater Company diz a que veio. O vaudeville nunca foi tão necessário.Do outro lado da cidade, um herói foi entronizado com a pouca pompa característica do sul da ilha. Quem liderou a unção improvisada foram os funcionários do Takashi, o exótico restaurante nipo-coreano do Greenwich Village, eleito por Anthony Bourdain como seu favorito na cidade. O autor do best-seller "Cozinha confidencial" e super-homem da vez no...

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