‘Os EUA nunca se recuperaram’

A historiadora Barbara Perry é uma das maiores especialistas na trajetória dos Kennedy nos Estados Unidos. Pesquisadora do Centro Miller da Universidade da Virgínia, ela compara a euforia pela chegada de JFK à Casa Branca àquela sentida com a eleição de Barack Obama em 2008.Flávia Barbosaflavia.barbosa@oglobo.com.brWASHINGTON Barbara Perry tinha 4 anos quando foi levada pela mãe, em Louisville, Kentucky, para assistir a um comício do candidato democrata à Presidência em 1960, o senador John Fitzgerald Kennedy. Ficou encantada com a oratória e o magnetismo daquele homem. Ali, ela decidiu que JFK seria seu projeto de vida.JFK arrebatou os EUA em 1960. Com que mensagem venceu as eleições?Kennedy projetou cuidadosamente, desde os tempos de Congresso, a imagem do jovem e vibrante líder para os anos 1960, que enterrariam o pós-guerra. Criou muita identificação, esperança. E ainda era bonitão, herói de guerra, tinha uma mulher, que estava grávida, e uma filha lindas. E tinha a história pessoal, ele fazia parecer que tudo era possível. Se este jovem, católico, irlandês pobre por origem, que sobreviveu à guerra, pode se tornar candidato à Presidência... É, de muitas maneiras, como as pessoas se sentiram em 2008 com Barack Obama, com os negros chorando de alegria, pensando: “Meu Deus, nunca achei que esse dia viria.” Foi assim que as pessoas se sentiram com Kennedy. Os católicos certamente. As famílias de imigrantes...JFK se elegeu com uma agenda doméstica inspiradora, mas críticos dizem que ele a sacrificou em nome da batalha anticomunista, com mais status histórico. Foi uma escolha?A agenda externa se impôs logo no início do mandato, com a invasão desastrada da Baía dos Porcos e depois com a Crise dos Mísseis. Nada como uma potencial aniquilação nuclear para chamar a atenção de um presidente. Também tinha a vaidade: ele saiu da primeira cúpula com Kruschev, em Viena, vermelho de raiva e dizendo que havia sido barbarizado pelo premier soviético, temia parecer fraco e, com isso, dar espaço para os soviéticos agirem. Ele então pôs foco na Guerra Fria. Mas de fato havia tensões gerais, em Cuba, em Berlim e no Sudeste Asiático.Então ele abandonou o plano doméstico?Não, mas foi muito pragmático. Por exemplo, em direitos civis. Kennedy não foi particularmente corajoso, optou por ser gradualista. Ele só queria fazer pequenas coisas, como decisões administrativas que driblassem o Congresso. Mas se apresentou quando foi necessário, no fim da segregação das universidades do...

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