Extremismos da fé e da razão

O crítico literário inglês Terry Eagleton é um acadêmico célebre pela habilidade com que explica e (muitas vezes) ironiza os argumentos mais complexos dos principais pensadores contemporâneos. Em Paraty, ele fez uma palestra sobre uma figura de interesse um tanto mais amplo do que o pós-estruturalismo francês ou a teoria da recepção alemã: Deus.Eagleton mantém-se um marxista irremitente, mas se tornou ultimamente um opositor convicto do ateísmo militante que se espalhou pelos EUA e pela Europa em reação ao islamismo radical e à pregação anticientífica da direita religiosa americana. Chamado em 2006 a resenhar a bíblia da nova militância ateísta, "Deus, um delírio" (Companhia das Letras), de Richard Dawkins, Eagleton bombardeou a obra.Por telefone, Eagleton conversou com O GLOBO sobre a obra.TERRY EAGLETON: "Não acho que exista nenhuma conexão automática entre religião e intolerância"Miguel CondeEm seu livro "Razão, fé e revolução" (Nova Fronteira), o senhor se pergunta por que Deus se tornou assunto tão central no debate intelectual contemporâneo e afirma que isso tem a ver com os ataques terroristas do 11 de Setembro nos EUA. Qual é a conexão?TERRY EAGLETON: Os chamados neoateístas são uma espécie de braço intelectual da guerra ao terror. O 11 de Setembro é, portanto, o marco inicial desse debate. Essa discussão aparentemente politicamente inocente sobre Deus é, na verdade, uma reação ao islamismo radical. Quando falamos sobre o ateísmo hoje, estamos falando de política, e não apenas de teologia.O senhor diria que não devemos pensar o terrorismo contemporâneo prioritariamente em relação à religião?EAGLETON: Não acho que as motivações por trás do islamismo radical sejam principalmente religiosas, mas políticas, ainda que não seja fácil separar as duas coisas no caso do Islã. Ao se bater contra a religião, esse novo ateísmo ocidental está errando o alvo.Qual seria um alvo melhor?EAGLETON: O islamismo radical é motivado pelo que percebe como uma injustiça política, assim como o fundamentalismo ocidental resulta da ansiedade de um grupo que se sente deixado para trás na sociedade moderna e expressa isso em termos religiosos, pois precisa do conforto de certas certezas. Não se pode pensar nenhum dos dois apenas em função da religião. É preciso considerar um contexto mais amplo, o que não significa de forma alguma apoiá-los. Há um equívoco, popular hoje, de que explicar seria o mesmo que endossar. Temos de combater esse tipo de discurso com firmeza...

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