\'Falta confiança na situação interna dos Estados Unidos\'


Entrevista concedida pelo ex-presidente norte-americano Bill Clinton ao jornalista William Waack , para o programa Milênio , da Globo News . O Milênio é um programa de entrevistas, que vai ao ar pelo canal de televisão por assinatura Globo News às 23h30 de segunda-feira, com repetições às 3h30, 11h30 e 17h30.



Aos 67 anos, Bill Clinton parece muito mais jovem do que a maioria dos homens da sua idade. Ele até parece ter se tornado mais jovem, desde que sofreu uma operação de coração aberto há dez anos com uma rara complicação nos pulmões depois da operação. Saiu da Casa Branca no começo de 2001, mas nunca deixou a política e não é só pelo fato da mulher dele, Hillary, ter sido senadora, secretária de Estado, pré-candidata a presidência e ao que se comenta de novo candidata à presidência. Clinton é uma personalidade política por seu próprio mérito, entre os quais está o de ter o seu nome ligado a um período de grande prosperidade e incontestável primazia dos Estados Unidos entre as potências. Amigo de todo mundo, sempre simpático e sorridente em público, ele reinventou-se como personalidade global através de uma iniciativa que pretende fomentar a cooperação entre governos, iniciativa privada e ONGs, é a Clinton Global Initiative, que se reuniu pela primeira vez na América Latina no Rio de Janeiro no dia 9 de dezembro. Permeia essa iniciativa uma espécie de otimismo, do qual o rosto de Clinton foi sempre uma reconhecida expressão. “É melhor colocar as pessoas para tratar de maneira prática de problemas do que deixá-las simplesmente discutindo tudo em uma mesa redonda e no dia seguinte já se esqueceram do que falaram”, costuma dizer Clinton. O ex-presidente americano nos recebeu no Copacabana Palace, palco do encontro da Global Initiative, durante sua décima primeira viagem ao Brasil, país no qual diz ele sempre encontrou ideias originais para resolver problemas.


William Waack — Eu soube que, na infância, o senhor se impressionava quando diziam que adultos só dormiam 5 horas por noite.

Bill Clinton — Mas eu cometi um erro. Há muitos indícios de que pessoas que dormem pouco vivem menos e que a mente é prejudicada por isso. E devo dizer que, quando deixei a presidência, pensando em retrospecto, percebi que, até aquele ponto, cometi a maioria dos meus grandes erros porque estava cansado demais.


William Waack — É mesmo?

Bill Clinton — Seu raciocínio fica prejudicado. Psicologicamente... Talvez seja um ato divino, mas se você está no meio de uma crise inevitável, na qual ninguém é capaz de dormir uma noite tranquila, você tende a ficar num nível mais alto de vigília, mas há inúmeros indícios de que a privação do sono debilita a saúde das pessoas e também reduz a produtividade de toda uma empresa, ou de outros empreendimentos.


William Waack — Leva a erros.

Bill Clinton — E nós deveríamos... Na virada do século. Isto é muito interessante. Na virada do século XIX para o século XX, o americano médio dormia cerca de 9 horas por noite. E, na virada do último século, a média caíra para 6,5 horas. Portanto, vale a pena pensar se deveríamos fazer mais. É um pouco tarde para mim. Mesmo se eu começasse a dormir 9 horas por noite, a minha média ainda seria baixa.


William Waack — Vamos ao nosso assunto, senhor presidente. O senhor está no Rio para o Clinton Global Initiative. Parece-me que a era de grandes ideias e grandes soluções chegou ao fim. Entendo que o senhor sugere que as pessoas se reúnam, se concentrem em medidas práticas e se comprometam. Isso significa que, na nossa época, não existem mais grandes sonhos?

Bill Clinton — Não, mas significa que, para se ter grandes sonhos, transformá-los em grandes projetos e conseguir um grande apoio para eles será cada vez mais necessário um nível de confiança e participação que envolva a sociedade civil, a iniciativa privada e o governo. E, cada vez mais, grandes projetos serão realizados através de redes.


William Waack — Contatos pessoais.

Bill Clinton — Sim, contatos pessoais, sejam ao vivo ou virtuais. Vou lhe dar um...

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