Na feira dos historiadores

Pesquisador brasileiro relembra participação do britânico, que tem obra póstuma lançada no Brasil, em evento realizado após fim da Guerra Fria, quando foi ignorado por defensores do 'fim da História'Francisco Carlos Teixeira da SilvaEric Hobsbawm. Criticado na "Cortina de Ferro", historiador foi consagrado na África do Sul, América Latina e ÍndiaDavid Levenson/Getty Images/26-05-2007Eric hobsbawmEm 1998, pouco depois do fim da Guerra Fria, reencontrei Eric Hobsbawm, em um congresso em Oslo. Parecia mais magro, mais alto e, por isso mesmo, mais velho do que nunca - o que era, de imediato, desmentido pelo vivo brilho de seus olhos e pela lucidez mordaz de seus comentários sobre "a feira dos historiadores". Seu livro "Era dos extremos" era um sucesso mundial, misturando conhecimento rigoroso, crítica social e uma boa dose de pessimismo, afinal, o "socialismo realmente existente", com o qual nunca se identificara, ruía por toda parte.Com ele, ruíam esperanças e utopias acalentadas desde a época de estudante em Berlim, nos anos que precederam o nazismo. Judeu, súdito britânico nascido em Alexandria, Egito, em 1917, de ascendência germânica (sua mãe era uma judia austríaca), ficou órfão em 1931 e foi viver com os tios na Inglaterra, onde, de fato, encontrou uma identidade cultural e política. No entanto, Viena e Berlim das crises sociais, do desemprego e das lutas entre comunistas e nazistas jamais sairiam de sua cabeça. E os estudos na velha universidade de Humboldt e Fichte marcariam, em definitivo, a obra do historiador, que tem lançada agora no Brasil a coletânea póstuma "Tempos fraturados: cultura e sociedade no século XX" (Companhia das Letras, tradução de Berilo Vargas).Em pauta, o colapso do comunismoEm Oslo, a comissão organizadora da Associação Internacional de Historiadores sequer o convidou para sentar à mesa ou, mesmo, na primeira fileira da sessão de abertura. Dominada por historiadores americanos e alemães, parecia impermeável a qualquer concessão ao "marxismo derrotado". Era um tempo de júbilo pela "reunificação da Europa" - ou seja, a derrota da União Soviética, e seu retorno ao cenário mundial. Dezenas de jovens historiadores da Europa Oriental dominavam as mesas, com clara distribuição de "tempos de fala" que favoreciam as narrativas de colapso do comunismo, retorno da liberdade e êxito das teses do "fim da História". Para Hobsbawm não era somente triste, era ainda irônico e pobre rever - tal como nas derrotas do movimento popular depois de...

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