Filosofia do excesso

Escritor francês, que refletiu com ímpeto transgressor sobre arte, religião, erotismo e economia, ganha novas edições no país e tradução inédita da revista 'Acéphale', criada por ele nos anos 1930Karl Erik SchøllhammerGeorges Bataille. Teses sobre uma "economia geral", cujo escopo abarca a totalidade da vidaDivulgaçãoGeorges Bataille"Eu tinha um ponto de vista a partir do qual o sacrifício humano, a construção de uma igreja ou a dádiva de uma joia não tinham menos interesse do que a venda de trigo." As palavras do ensaio "A noção de dispêndio", de Georges Bataille, foram escritas em tom de militância, quando o escritor francês ainda não havia alcançado os 30 anos. Evidenciam a tentativa precoce de abarcar num mesmo gesto reflexivo domínios do conhecimento tão diferentes quanto antropologia, religião, arquitetura, arte, filosofia e economia.Por trás da aparência pacata escondia-se uma personalidade perturbada pelo apetite voraz de conhecimento, um ímpeto revolucionário e transgressor, sem esquecer sua atividade secreta de pornógrafo, que gerou clássicos da ficção erótica como "História do olho" (1928), publicado sob o pseudônimo Lord Auch. Dez volumes e mais de sete mil páginas foram necessários para compilar as obras completas de Bataille, organizadas pela Editora Gallimard com prefácio de Michel Foucault, que o aponta como um dos escritores mais importantes do século. São ainda poucos os títulos de Bataille em português e é muito bem vinda a reedição de duas de suas obras centrais, "A parte maldita" (em volume que inclui "A noção de dispêndio") e "O erotismo", ambas pela editora Autêntica.Com uma escrita que se desenvolve ambiguamente entre a filosofia e a literatura, Bataille é um dos poucos pensadores inclassificáveis do século XX e continua a causar um significativo e paradoxal impacto, num misto de lucidez e estranhamento que desestabiliza o leitor. Nascido em 1897, era arquivista e trabalhou a maior parte da vida no departamento de heráldica e numismática da Biblioteca Nacional francesa. Nos anos 1920, participou dos movimentos da vanguarda dadaísta e surrealista, sempre em diálogo com a esquerda revolucionária de Paris. Rapidamente se afastou do que considerava o idealismo autoritário e hierárquico de André Breton e do comunismo de vocação stalinista. Propôs em seu lugar um baixo materialismo, elaborado em textos como "O dedão do pé" (1929), que colocava em foco o excluído, o rejeitado e censurado ou, simplesmente, o sujo e o abjeto.ênfase no que é...

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