Filósofo francês Michel Onfray faz série de conferências no Brasil

Fernando Eichenberg (eichenberg@oglobo.com.br)PARIS - O filósofo Michel Onfray é considerado um "elétron livre" no cenário intelectual francês contemporâneo, constantemente envolto em polêmicas por suas contestadas opiniões. Crítico do sistema acadêmico tradicional, fundou a Universidade Popular de Caen, em 2002, por um aprendizado livre e gratuito.Autodefinido como um socialista libertário, inimigo declarado das religiões, Onfray acredita na mudança do mundo sem a tomada do poder, via a práxis do "princípio de Gulliver" - a força e a união dos pequenos contra o poder dos grandes -; elege o hedonismo como uma arma contra a sociedade capitalista de consumo; aponta o fim próximo da civilização ocidental, e condena a popularização fácil de uma filosofia vendida em fascículos e manuais.De fértil produção intelectual, o pensador este ano lançou uma extensa biografia do filósofo Albert Camus ("A ordem libertária"), que terá o centenário de nascimento comemorado em 2013, e o livro "Tornar a razão popular", sobre a experiência da criação da Universidade Popular.Michel Onfray participa esta semana no Brasil do ciclo de palestras "Fronteiras do Pensamento": depois de se apresentar ontem em Florianópolis, ele fala nesta quarta-feira em São Paulo, na Sala São Paulo, às 20h30min.O senhor menciona um Ocidente atingido por uma "formidável ressaca ontológica", um niilismo europeu numa civilização que desmorona, sem ética ou alternativas políticas. Vamos contra o muro?A civilização europeia viveu seu tempo, está na fase de expiração, os últimos estertores, últimos suspiros... É assim com todas as civilizações as quais, como sabemos ao menos desde Hegel, são mortais. Nossa civilização não vai contra o muro, mas para o túmulo - e isso é natural.Como o senhor avalia o embate entre a razão filosófica e a religião no mundo contemporâneo?A razão é sempre minoritária, e a religião sempre majoritária, pois a inteligência é mais rara do que a obediência. As pessoas preferem uma ficção que lhes dê segurança, uma lenda que lhes apazigue, histórias para crianças que lhes permitam dormir tranquilos, em vez de verdades que inquietam, certezas que angustiam. É por isto que a religião jamais desaparecerá do planeta, e porque os filósofos dignos deste nome serão sempre minoritários.A filosofia está hoje ameaçada?Não, ao contrário. Eu a vejo muito viva, muito forte, mas ela deve enfrentar uma oferta...

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