Flerte com a modernidade

Any Bourrierinternacio@oglobo.com.brImagine um país que desconhece a modernidade e a globalização. Onde reina o silêncio. Onde não se veem carros nas ruas. Onde as pessoas caminham em fila indiana porque formar grupos é considerado crime. Onde o ar que se respira é puro porque não existe poluição. E onde a escassez de energia, de bens de consumo e da maior parte das tecnologias que hoje fazem parte do cotidiano no resto do mundo o transformou num país de opereta, num palco colorido onde atuam 23 milhões de pessoas crentes que vivem no paraíso. Este país existe e se chama Coreia do Norte.Pyongyang, a capital, é a enganosa vitrine do paraíso artificial e imaginário criado pelo ex-líder guerrilheiro comunista Kim Il-sung ao fim da Segunda Guerra, em 1945. Por trás de um certo ar de modernidade - prédios altos, claros, bem alinhados, de fachada impecável, jardins bem cuidados - esconde-se a verdadeira natureza do país. Nos edifícios não há elevador, os cortes de água e luz são frequentes. Para cozinhar ou tomar banho, os moradores sobem vários andares a pé carregando latas d'água. Por isso, a população recorre aos banhos públicos, cuja frequência média é de um por semana para os homens e dois para as mulheres. Uma guia oficial explica que, quando não pode lavar o cabelo todo, lava apenas a franja.- É o que mais aparece - desculpa-se.Manter as aparências, aliás, não é só um jeitinho dos norte-coreanos de levar a vida em circunstâncias de privações - a ajuda internacional, para dar apenas um exemplo, fornece comida a seis milhões de pessoas (25% da população), e uma em cada três crianças é desnutrida. O maior adepto dessa estratégia é o governo comunista de Kim Jong-il, o Querido Líder, filho do fundador do país. Quando as autoridades organizam um evento importante, se delegações estrangeiras forem convidadas, Pyongyang - normalmente uma cidade-fantasma, deserta, melancólica e fria - muda. Agora em outubro, na Sétima Feira Industrial de Outono de Pyongyang, as ruas foram decoradas, as lojas foram abastecidas para dar a impressão de prosperidade, e as pessoas feias e os deficientes físicos, exilados em aldeias próximas para que os visitantes tivessem a impressão de que no "paraíso dos trabalhadores" todo mundo é bonito e saudável.Pequenas mudanças para manter controleMas Kim Jong-il sabe que num mundo pós-Guerra Fria, onde o comunismo virou peça de museu e a tecnologia avança a passos impressionantes, o isolamento a que seu país se autoimpôs - e que foi...

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