O índio brasileiro e a Revolução Francesa

AutorRogério F. Guerra
CargoEndereço para correspondências: Universidade Federal de Santa Catarina, Departamento de Psicologia, Campus Universitário, Florianópolis, SC, 88040-900
Páginas251-253

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FRANCO, A.A. DE M. O índio brasileiro e a Revolução Francesa . Rio de Janeiro: TopBooks, 2000.

Muitos eruditos acreditavam que os índios eram criaturas míticas, habitantes de um Éden tropical e dotados de uma bondade natural. O homem primitivo não fora corrompido pelos avanços da civilização e era, portanto, moralmente superior ao europeu. As impressões sobre os índios eram baseados em relados dos exploradores, homens rudes e incultos, e foram alimentadas por ruminações mentais daquilo que poderíamos designar de "antropologia de gabinete". Acreditava-se que os índios eram fortes e bem nutridos e facilmente chegavam aos 150 anos de idade; eles andavam nus como se fossem os primeiros habitantes da Terra, sem a mácula do Pecado Original. As árvores lhes proviam frutos saborosos e suculentos, os rios transbordavam de peixes e animais carnudos praticamente se ofereciam para o abate. O modo de vida tranqüilo e a alimentação farta explicavam o sistema comunal perfeito; não havia espaço para a ganância, inveja e o acúmulo de bens materiais. A natureza provia tudo.

A idealização da vida selvagem deu origem a equívocos curiosos, como a suposta preocupação com o asseio corporal - os portugueses aprenderam a tomar banho diário com os índios, postulam alguns. Os constantes mergulhos nas águas dos rios indicavam tal preocupação, embora fosse mais adequado explicar o hábito como resultante do forte calor tropical. Por outro lado, os relatos de viagens também descreviam que os índios defecavam dentro das ocas, bebiam água suja dos rios e os descuidos no preparo da alimentação ocasionavam sérias infestações parasitárias. Entretanto, o modo de vida dos índios inspirou vários personagens da literatura infanto-juvenil, como Tarzan, Mogli e Pocahontas. Essas histórias enfatizam a beleza e o suposto relacionamento harmonioso dos índios com os elementos da vida selvagem; eles exibem virtudes como lealdade e honestidade, interagem pacificamente com os animais e se conformam com os humores da "mãe natureza", diferentemente do homem moderno que adapta tais elementos às suas necessidades.

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A atitude favorável m relação à natureza e o mito do Éden tropical estão relacionados ao moderno pensamento ecológico. Dentro dessa linha de pensamento, a civilização corrompe o homem e elimina de seu coração suas virtudes originais. Entretanto, parece que os próprios índios não estão convencidos disso, pois eles buscam assistência médica nos postos de saúde...

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