\'Infraestrutura é incentivo para fim de conflito afegão\'


Entrevista concedida pelo cientista político Barnett Rubin , conselheiro sobre Afeganistão no Departamento de Estado dos EUA, ao jornalista Lucas Mendes, para o programa Milênio , da Globo News . O Milênio é um programa de entrevistas, que vai ao ar pelo canal de televisão por assinatura Globo News às 23h30 de segunda-feira, com repetições às 3h30, 11h30 e 17h30.



Quando os americanos e seus aliados em 2001 invadiram o Afeganistão e derrubaram o Talibã, prometeram criar um país eficiente, centralizado, moderno e democrata. Pouco depois os americanos invadiram o Iraque e, durante seis anos, o Afeganistão foi relegado a segundo plano. Hoje, a maioria das tropas já voltou para casa e o restante deve sair até o fim de 2014. Mas, pelos acordos assinados entre os dois países, os americanos vão deixar bases, assessores militares, forças especiais, vasta infraestrutura de apoio aos 350 mil militares afegãos. Mesmo depois de investir mais de US$ 600 bilhões na guerra e no Afeganistão, as previsões de estabilidade e democracia são sombrias. Grandes partes no sul e no leste do país estão fora do controle do governo central. Alguns analistas acham que em quatro anos, como aconteceu depois da expulsão dos soviéticos, o Talibã vai retomar o país. Será um Talibanistão. Barnett Rubin não é nem o mais pessimista, nem o mais otimista dos especialistas em Afeganistão. Autor de quatro livros sobre o país e a guerra, o professor Rubin é conselheiro sobre Afeganistão no Departamento de Estado. Já foi conselheiro da ONU e da Otan. Há 13 anos dirige o centro de cooperação internacional da Universidade de Nova York. Seu livro mais recente Afghanistan: From the Cold War Through the War on Terror (Afeganistão: da Guerra Fria à Guerra ao Terror) reúne ensaios que apontam os erros e os acertos americanos. Nossa entrevista foi no estúdio do Milênio em Nova York.


Lucas Mendes — O senhor diz que os EUA não querem mais uma vitória militar. Os outros estão buscando essa vitória? Ela é possível?

Barnett Rubin — Algumas pessoas podem esperar isso, principalmente alguns integrantes do Talibã, mas acho que, após 35 anos, todos já sabem que uma vitória militar não é possível. Se analisarmos historicamente, o Afeganistão ficava no limite do Império Britânico. E é um país com um passado colonial. Os brasileiros provavelmente entendem isso melhor do que os americanos. E, em parte, os britânicos criaram as fronteiras de lá.


Lucas Mendes — Num acordo com os russos.

Barnett Rubin — Exatamente. Desde que isso aconteceu, o Império Britânico acabou, Índia e Paquistão se tornaram independentes e a União Soviética acabou. Então, a situação da região mudou e os países de lá emergiram economicamente. Assim como o Brasil emergiu na América do Sul, Índia e China emergiram naquela região e o Irã está se tornando uma potência regional. E tudo isso mudou a situação do Afeganistão. Não existe um consenso internacional sobre como estabilizar aquele país, que é muito pobre e não pode manter seu exército e governo. E todos na região, ao mesmo tempo que suspeitam uns dos outros, incluindo estrangeiros como os EUA, buscam uma forma de sair dessa armadilha de 35 anos de guerra.


Lucas Mendes — Um acordo é possível? Ele está avançando?

Barnett Rubin — No momento, as coisas estão empacadas em alguns aspectos, mas avançam em vários canais diferentes. Durante um tempo, o Talibã tentou negociar com os EUA, alegando que não teve nada a ver com o 11 de Setembro e queria ser tratado como um grupo afegão. O Afeganistão sempre suspeitou que o Paquistão usa o Talibã para pressioná-lo em questões de fronteiras e étnicas. O Paquistão teme que a presença do Talibã no país desestabilize o Paquistão. No momento, uma iniciativa que está avançando é tentar melhorar as relações entre Afeganistão e Paquistão para que os dois países possam colaborar no processos de paz. O Paquistão pode contribuir para levar os líderes talibãs para discutir com o governo afegão. Há algumas semanas, o secretário de Estado John Kerry se encontrou em Bruxelas, na sede da Otan, com os líderes do Afeganistão e do Paquistão para discutir o início do processo de paz, e eles chegaram a uma certa concordância, mas ainda há muitas tensões entre os dois países.


Lucas Mendes — Quem são os principais envolvidos? Os EUA, o governo afegão? Eles têm o...

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT