Livros para o Natal II

o dia 6 de junho de 1944, na primeira leva de assalto das tropas aliadas à praia de Omaha, na Normandia - o famoso Dia D, da Segunda Guerra Mundial - estava o fotógrafo Robert Capa, carregando o seu armamento habitual: duas câmeras Contax, vários rolos de filme, muita valentia e talento de sobra. Apesar das condições desfavoráveis (para dizer pouco), ele conseguiu fazer mais de cem fotos da histórica invasão.O material foi enviado para Londres, onde, no laboratório da revista "Life", um assistente se descuidou, e destruiu a emulsão dos filmes. Salvaram-se apenas oito fotos borradas, publicadas pela revista com uma legenda que explicava que estavam "ligeiramente fora de foco" porque as mãos do fotógrafo tremiam diante da intensidade do combate.Capa, veterano de outras batalhas, nunca engoliu a desfeita e, quando publicou suas memórias da Segunda Guerra, deu-lhes o título "Ligeiramente fora de foco". É este livro precioso que acaba de chegar às livrarias, bem a tempo de ser um dos melhores presentes da temporada. A tradução é de José Rubens Siqueira, e a edição é da Cosac Naify (o sonho secreto de todo livro).Robert Capa, que nasceu em Budapeste como Endré Friedmann, inventou o alter ego para poder se vender melhor em Paris: como agente do "famoso Capa", sentia-se mais à vontade para elogiar o próprio trabalho. Sua primeira ambição, contudo, não era ser fotógrafo, e sim escritor. "Ligeiramente fora de foco" prova que não lhe faltava base para tanto: o livro é ao mesmo tempo terno e espirituoso, alternando os horrores do campo de batalha com as aventuras galantes do moço que não via motivo para acordar de manhã se não houvesse uma boa guerra nas vizinhanças."Contos húngaros", um pequeno volume da Hedra, dá uma pista da origem do estilo agridoce de Robert Capa: nele estão reunidos dez contos inéditos de quatro dos principais autores húngaros, nomes que Capa com toda a certeza conhecia: Gyula Krúdy, Deszö Kosztolányi, Géza Csáth e Frigyes Karinthy. O livrinho de bolso não faz vista, é miúdo e barato, mas o que lhe falta em imponência sobra em conteúdo: ele tem até uma introdução do expert Nelson Ascher, que apresenta os autores e o contexto em que viveram.A Hungria é um país pequeno, mas dado a produzir escritores de primeira grandeza; infelizmente, suas obras poucas vezes chegam a transpor as barreiras do idioma. Angustiado com isso, meu pai passou parte da vida traduzindo para o português o trabalho dos seus conterrâneos. Essa nova antologia (dedicada...

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