Movimentos sociais e sociedade civil: as implicações das diferentes abordagens teórico-conceituais e dos paradigmas

AutorGisane Gomes
Páginas43-52

Gisane Gomes. Doutora em Serviço Social – Demandas e Políticas Públicas. Mestre em Sociologia das Sociedades Industriais. Bacharel e Licenciada (Plena) em Ciências Sociais. Professora da FSG na cadeira de Sociologia das Organizações e de Antropologia Cultural. Coordenadora do Serviço de Assessoria Socioambiental do Departamento Municipal de Limpeza Urbana da Prefeitura de Porto Alegre. Professora do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), do Ministério da Justiça.

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1 Introdução

As inúmeras contradições sociais que afloram dos processos de globalização, nos últimos anos, têm reforçado o advento das discussões sobre a problemática dos movimentos sociais. Temas da atualidade pautam as agendas acadêmicas e das organizações em todo o mundo, com o objetivo de encontrar ou discutir possíveis caminhos e saídas para enfrentamento ao neoliberalismo e à exclusão social. Várias questões surgem nesse processoPage 44 de pensamento. Como estão posicionados os movimentos sociais no contexto atual? Ou então, que tipo de fundamento teórico pode vir a respaldar suas ações, avaliações e eficiência? Para onde vão os movimentos sociais? Que objetivos almejam? Esses movimentos ainda buscam uma mudança radical, uma subversão à ordem?

Autores como Maria da Glória Gohn (1997), por exemplo, tratam das teorias dos movimentos sociais de forma a classificá-las em grupos que apresentam como eixo aglutinador paradigmas diferenciados dos movimentos sociais e uma estruturação temporal de suas especificidades. Paradigmas, pressupostos, variáveis e categorias são trabalhados e desenvolvidos a partir de uma rede de relações nas quais as categorias Estado e Sociedade Civil têm sido utilizadas larga e freqüentemente.

Entretanto, a questão que brota nos processos – pensar a problemática teórica e as ações dos movimentos sociais – diz respeito à forma e ao peso que a utilização da categoria Sociedade Civil vem assumindo nas análises realizadas. Que pressuposto teórico a fundamenta? Existe consistência entre a utilização do conceito de sociedade civil e o paradigma aceito por determinada teoria dos movimentos sociais?

Parece óbvio que responder a esses questionamentos e a dúvidas das demais questões que emergem e podem emergir do problema é uma tarefa bastante complexa. Assim, a pretensão desse trabalho é, de forma enciclopédica, apontar as linhas gerais de algumas diferenciações utilizadas na conceituação da categoria Sociedade Civil, trilhando possíveis caminhos que possam sistematizar uma análise mais verossímil das teorias dos movimentos sociais. Procurar-se-á centrar o raciocínio sobre o seguinte problema: como as diferentes abordagens da categoria Sociedade Civil servem de pressupostos teóricos para os paradigmas dos movimentos sociais, fazendo com que, muitas vezes, as análises sejam bastante diferenciadas?

2 Desenvolvimento
2. 1 Os conceitos, os paradigmas e as abordagens

Para melhor desenvolver esse trabalho, cabe apresentar, primeiro, alguns aspectos da lógica que pretendemos seguir.

As explicações e localizações dos movimentos sociais como fenômenos sociais perpassam por categorias importantes de análise e de aproximação com o real, como, por exemplo, Estado, Sociedade Civil, Cidadania, Exclusão, Ausência, Participação Política, Democracia, Mobilização de Recursos, Direitos, Reconhecimento, Mudança e Preservação. Muitas ve-Page 45zes, dependendo da teorização de que se utiliza, essas categorias são vistas como variáveis; outras vezes, como fins de luta, como objetivos a serem alcançados. O que irá determinar seu potencial e caráter é o pressuposto teórico, é o sistema de hipóteses, é o método, são a metodologia e o tratamento dos dados nessa aproximação com o real da problemática em questão.

Portanto, para que a categoria Sociedade Civil possa ser alçada à análise, é importante que se apresentem algumas conceituações e abordagens sobre ela, que sejam apresentados os diferentes paradigmas das teorias dos movimentos sociais, bem como a delimitação do contexto onde se estabelecem suas relações. Em suma, o que são os movimentos sociais.

Gohn (1997) aborda os movimentos sociais por meio de uma tipologia que tem nos paradigmas seu eixo-base de classificação. A autora separa em três grandes grupos esses paradigmas que dão norte às teorias dos movimentos sociais, a saber, como paradigma norte-americano, paradigma europeu, subdividido em marxista e dos novos movimentos sociais e paradigma latino-americano.

Segundo Joachim Raschke (1988), os movimentos sociais perseguem o objetivo de evitar, provocar, reverter a transformação social. Para isso, lançam mão de processos contínuos de ações coletivas e mobilizadoras, nos quais ocorre uma alta integração simbólica e, muitas vezes, de identidade, onde a organização é ponto-chave e a especificação funcional é secundária.

Assim, falar em movimentos sociais pressupõe abordar questões referentes à continuidade, à organização e à mobilização, considerando a comunicação como ponto importante, bem como a simbologia e identidade de seus integrantes. Em suma, falar em movimentos sociais significa falar em liberdade de transgressão das regras vigentes. Os movimentos sociais podem, ainda, estar orientados tanto ao poder quanto à cultura. Em um caso ou em outro, de orientação dos movimentos a metas ou objetivos, eles passam, necessariamente, pela sociedade civil.

Dos paradigmas identificados por Gohn (1997), a...

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