As mulheres de Gustav Klimt

AutorJosé Artur Molina - José Sterza Justo
CargoMestre em Teoria Psicanalítica pela Universidade Complutense de Madri. Doutorando em Psicologia pela UNESP-Assis SP. - Doutor e Mestre em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo (USP)
Páginas107-142
DOI: 10.5007/1807-1384.2010v7n2p107
AS MULHERES DE GUSTAV KLIMT
WOMEN OF GUSTAV KLIMT
LAS MUJERES DE GUSTAV KLIMT
José Artur Molina
1
José Sterza Justo
2
RESUMO:
Estudar a produção de Gustav Klimt é navegar pela história de um país, Áustria, e
circular pelo mundo do Império Austro-húngaro em suas entranhas. Este trabalho
pretende refletir sobre a rebeldia do feminino que não quer mais ser condenado à
clausura despótica promovida por um mundo masculino. Klimt, por paixão, abraça,
com estética impar, esta bandeira.
Palavras-chave: Klimt. Viena. Feminino. Áustria.
ABSTRACT:
Study the production of Gustav Klimt is browsing through the history of a country,
Austria, and travel the world of the Austro-Hungarian in their bellies. This work
attempts to reflect the rebelliousness of the women who do not want to be sentenced
to confinement despotic promoted by a man’s world. Klimt, by passion, hugs, with
odd aesthetic, this flag.
Keywords: Klimt. Vienna. Female. Austria.
RESUMEN:
Estudiar la producción de Gustav Klimt es navegar por la historia de un país, Austria,
y pasar por el mundo de la monarquía austro-húngara en sus entrañas. Este trabajo
pretende reflexionar a cerca de la rebelión de las mujeres que no quieren ser
condenados a la reclusión despótica promovida por un mundo de hombres. Klimt,
por la pasión, abraza, con estética inigualable, esta empresa.
Palabras clave: Klimt. Viena. Mujer. Áustria.
1
Mestre em Teoria Psicanalítica pela Universidade Complutense de Madri. Doutorando em Psicologia
pela UNESP-Assis SP. Professor Efetivo da Universidade Estadual de Maringá, no Departamento de
Psicologia, na área de psicologia clínica. E-mail: josearturmolina@bol.com.br
2
Doutor e Mestre em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo (USP), Professor Livre
Docente na UNESP-Assis. E-mail: sterzajusto@yahoo.com.br
Obra licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição-Uso Não-Com ercial-
Não a obras derivadas 3.0 Unported
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1 IMPÉRIO E CULTURA
Seria inadmissível circular pela Viena fin-de-siécle sem considerar a
expressiva presença de Gustav Klimt (1862-1918). Sua trajetória artística é
emblemática por traduzir o momento de ebulição pelo qual passava, não só, a
cidade mais importante do Império Austro-húngaro, mas para todas as instituições
imperiais. A passagem que se dá neste momento é o da racionalidade clássica para
uma rebelde aventura da criação livre.
Klimt recebe todas as honrarias do Império na aposta que este fez de que a
cultura, e, principalmente a arte, poderia ser um fator aglutinador de um "Estado"
dispare. O próprio Imperador Francisco José I visitava as exposições de Klimt. Sobre
o artista pesava a responsabilidade de, ao lado de poucos, construir uma arte
vienense, própria do vale do Danúbio. Viena encontrava-se isolada do resto da
Europa. La tudo acontecia tardiamente.
O Império era por um conjunto de povos muito diferentes e que jamais chegou
a constituir-se num estado nacional integrado e sólido, apesar dos esforços dos
Habsburgos.
Certamente a Áustria almejava hegemonia sobre as demais regiões por isso
deveria ser um lugar destacado, de fato, tanto na política como na economia e na
cultura. Em 1900, o alto funcionário Dr. Ernest Von Koerber foi designado para
montar o ministério imperial e definiu os dois pilares de sustentação do governo:
"Batem aos portões do Império questões materiais e culturais" (SCHORSKE, 1988).
Assim, Klimt recebe várias encomendas de pinturas do Império para seus prédios
públicos. O Imperador mandou derrubar as muralhas ao redor da cidade e, com isso
surgiu a Ringstrasse. Trata-se de um complexo de avenidas com casas comerciais e
prédios públicos. Segundo Harvey (1993), a idéia de progresso acompanha o projeto
iluminista.
O artista mantinha uma amizade com o Ministro da Educação von Hartel. Foi
através dele que Klimt recebe a encomenda dos Quadros da Faculdade. No berço
da racionalidade e no leito da ciência, os pilares do iluminismo. Gustav decide criar
suas obras mais polêmicas. Elas chocaram os racionalistas acadêmicos, pois se
viram traídos em sua tarefa científica que tudo iluminava. Ao contrário, seus saberes
(a Filosofia, a Medicina e a Jurisprudência) foram representados por figuras
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nebulosas e ignóbeis que pouco representavam em um futuro de esperança e
progresso. A rebeldia da estética klimtiana vai se concretizar justamente no templo
do iluminismo. Dada a sua importância, voltaremos ao tema mais adiante.
A arte de Klimt é expressão e conseqüência dos movimentos humanos. Neste
sentido, estudar a obra de Klimt é ter possibilidade de realizar um vôo panorâmico
sobre condições sociais, culturais, econômicas e políticas da Viena daquele tempo.
Parece surpreendente que dentro desta lógica, Klimt tenha sido incumbido pelo
"establishment" de produzir uma arte que aglutinasse um império formado, não por
afinidades culturais, mas por alianças políticas que preservassem territórios e
justificassem dominações.
O paradoxo da situação de Viena daquela época é que os órgãos de Estado
acreditavam que possuíam na arte um meio de comunicação que
extravasava todas as oposições políticas. Cedo se constatou que se tratava
de um erro. O ministro da Educação era, nomeadamente, da opinião de que
a idéia do Estado e das nações podia ser ainda expressa de uma forma
vigorosa na arte, fora de qualquer crise social e étnica. Com efeito, muitos
artistas identificavam-se com ações patrióticas, culturais e artísticas e
punham as suas ambições, que estavam no fundo orientadas para o futuro,
ao serviço dessa idéia de Estado (e, por vezes, também ao da monarquia)
(FLIEDL, 1992, p.10).
Klimt não se deixaria domesticar por intenções excusas de monarcas e
ministros. Foi amado enquanto pintou o sonho iluminista e odiado quando passou a
retratar o pesadelo do fim das certezas. Mas para entender a trajetória de Klimt
devemos pesquisar sua formação.
2 A ESCOLA DE ARTES DECORATIVAS
Estuda na Escola de Artes Decorativas, ligada ao Museu Austríaco Imperial e
Real de Arte e Indústria, já aos 14 anos. Esta escola reflete o apogeu econômico
representado pela burguesia no auge do liberalismo político. Perto do poder político
e ávida de refinamento imperial, a burguesia tinha presença marcante na cultura
local. O objetivo da escola era o de aprimoramento da arte, buscando um
aperfeiçoamento da estética. Esta arte deveria ser consumida tanto pela burguesia,
na esfera privada, como pelo Estado, na esfera pública.

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