De onde o baiano vem

Salvador se prepara para receber a seleção da Nigéria, que carrega o DNA de grande parte da população negra da cidadeMiguel CaballeroEnviado especialmiguel.caballero@oglobo.com.brO xeque. Mojeed Oyewo, Coordenador da Casa da Nigéria, no Pelourinho: seleção africana vai amanhã visitar a instituição, que se dedica às relações entre os dois países, que têm em comum traços como a comida, a religião e o vestuárioGuito MoretoraízesSalvadorDuzentos anos depois que seus antepassados chegavam a Salvador, abarrotados em navios negreiros que traziam, cada um, entre 200 e 600 escravos na travessia de cerca de um mês do Atlântico, a seleção da Nigéria desembarca hoje à tarde na capital baiana para a disputa da Copa das Confederações. Não há encontro mais simbólico nas cidades brasileiras que recebem este mês representantes de todos os continentes: nos costumes, na língua, na religião, na culinária, nas vestimentas e, sobretudo, no DNA dos soteropolitanos está presente a herança dos iorubás, a etnia predominante na costa oeste africana na primeira metade do século XIX, precisamente na região sudoeste da atual Nigéria e no vizinho Benin, e que, naquelas décadas, foi submetida à escravidão na terceira grande fase de importação de pessoas da África para a Bahia.Junto dos iorubás vieram componentes fundamentais da cultura afro, fortíssima até hoje na Bahia, dos mais essenciais aos mais singelos. O acará, bolinho preparado pelos iorubás, ganhou uma sílaba e recheios variados ao tornar-se o acarajé, símbolo da culinária local. As roupas brancas, com muitos panos, são outro resquício à vista em qualquer esquina da capital.- Estima-se em cerca de 291 mil o número de iorubás trazidos do começo do século até 1850. Eles vinham para trabalhar nos canaviais do Recôncavo, mas também na cidade, como carregadores, domésticos, artesãos... Foram os iorubás que deixaram a marca mais indelével na cultura baiana. A população de Salvador é densamente negra, há um histórico recente de militância pela preservação dessa cultura, com blocos como o Ilê Ayê, o Olodum... Seria natural, portanto, qualquer seleção africana ter a simpatia dos baianos. Mas ser a Nigéria é ainda mais especial - analisa o historiador da Universidade Federal da Bahia (UFBA) João Reis, autor de livros sobre o período escravista.Candomblé é forte até hojeA verve politicamente incorreta do filósofo do futebol Neném Prancha dizia: "se macumba ganhasse jogo, o campeonato baiano terminava empatado". Na Copa das Confederações...

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