O poder foge das grades

Nobres que eram presos no brasil colônia pagavam taxas para cumprir pena em liberdade, subornavam carcereiros e negociavam com ministrosRenato Grandellerenato.grandelle@oglobo.com.brPasseio Público. Parque foi construído por negros presos na superlotada e suja cadeia da cidade, onde os ricos subornavam os carcereiros para poderem sair à noitePresos de galé. Negros condenados a penas baixas eram obrigados a prestar serviços no Rio; os detentos por crimes graves iam para o degredoCapa. Livro "História de conflitos do Rio de Janeiro colonial"ReproduçãoReprodução/Thomas EnterReproduçãoProcessos lentos, tramitando por diversas instâncias, em que os réus recorrem às suas relações pessoais com juízes e, mesmo quando são condenados, gozam de privilégios vetados ao preso comum. Em certos aspectos, a descrição lembra o caso do mensalão. Este cenário, no entanto, era comum nos tempos da Colônia. Os crimes contra a administração pública sempre foram tratados no Brasil no esquema "dois pesos, duas medidas", como mostra o livro "Histórias de conflitos no Rio de Janeiro Colonial" (editora Civilização Brasileira), de Nireu Cavalcanti, lançado este mês.Os presos que tinham recursos pagavam taxas que lhes permitiam responder ao processo em liberdade. Suas condenações eram adiadas ao máximo e, antes de ouvirem a sentença, conseguiam negociar sua defesa até com os desembargadores responsáveis por seus casos.Blindagem contra denúnciasQualquer pessoa poderia ser denunciada, mas os ricos tinham maior blindagem. Era um trunfo, considerando que a delação, no século XVIII, era um bom negócio. Quem relatasse às autoridades uma afronta à Igreja ou à monarquia recebia metade dos bens do suposto criminoso.Os ricos consolidavam seu prestígio com títulos de nobreza, normalmente herdados ou obtidos por quem concluía o ensino superior.- O caminho mais acessível para chegar à nobreza era conquistar o título da Ordem de Cristo - conta Cavalcanti. - O rei era seu grão-mestre, o que mostrava como monarquia e Igreja eram divinas e inseparáveis.A guerra também era um caminho para que as pessoas de "sangue infecto" - judeus, mouros, ciganos e negros - tivessem seus esforços reconhecidos pela monarquia. Foi o caso do negro Henrique Dias, que ganhou o título de Cavaleiro da Ordem de Cristo por sua participação na expulsão dos holandeses de Pernambuco (1654).- A aristocracia que veio de Portugal resistia à "nobreza que veio da terra" - destaca Cavalcanti. - Mas o rei ignorava esta rejeição e levava...

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