Democratização cultural e políticas de reconhecimento: notas sobre a trajetória do partido dos trabalhadores (PT)

AutorPaulo J. Krischke
Páginas1-16
R E V I S T A I N T E R N A C I O N A L I N T E R D I S C I P L I N A R I N T E R T H E S I S - PPGICH UFSC
DEMOCRATIZAÇÃO CULTURAL E POLÍTICAS DE RECONHECIMENTO: NOTAS
SOBRE A TRAJETÓRIA DO PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT)
CULTURAL DEMOCRATIZATION AND THE POLITICS OF RECOGNITION: NOTES ON
THE TRAJECTORY OF THE WORKERS´ PARTY (PT)
Paulo J. Krischke
Resumo:
Estas notas de pesquisa levantam a hipótese de que o PT tem participado ativamente da
democratização cultural do país, inclusive através de suas iniciativas pelo reconhecimento
da diversidade sociopolítica e cultural da cidadania. Aqui se discutem as diferenças entre
as políticas de reconhecimento, e as políticas de redistribuição sócioeconômica, por um
lado; e a trajetória do PT nas relações entre as políticas participativas e as mudanças na
cultura política, por outro lado. Nestas relações, o apoio crescente à democracia parece
associado ao reconhecimento do pluralismo e do direito à diferença -- principalmente
entre a juventude e naqueles locais onde o PT tem governado na última década.
Palavras-Chave: Reconhecimento; redistribuição; políticas sociais; governança; cultura
política.
Abstract:
These research notes raise the hypothesis that the Worker´s Party (PT) actively
participates in the cultural democratization of the country - for instance, through its
initiatives for the recognition of the citizen´s sociopolitical and cultural diversity. First, there
is a need to distinguish between the policies of socioeconomic redistribution and those
policies geared to sociopolitical and cultural recognition. Second, it is also necessary to
focus on the relations between participatory policies and changes in the political culture.
Such relations may show that the increasing support to democracy accompanies the
recognition of pluralism and of the right to difference, among the youth, and in the
locations administered by the PT during the last decade.
Keywords: Recognition; redistribution; social policies; governance; political culture.
Professor Doutor do Doutorado Interdisciplinar em Ciências Humanas (DICH) da Universidade Federal de
Santa Catarina (USFC)
2
INTRODUÇÃO
A eleição de Luis Inácio Lula da Silva para a Presidência do Brasil suscitou, entre
os eleitores brasileiros e observadores do mundo inteiro, muitas expectativas no sentido
da justiça social e da redistribuição da renda. No campo internacional (e talvez também
entre parte dos seus eleitores brasileiros) a campanha presidencial de Lula parecia
prometer (ou ameaçar) um ressurgimento do populismo -- como nas experiências do
passado, do “modelo Vargas/Goulart”, com suas políticas de confrontação interna e
externa, redistributivismo irresponsável e descontrole inflacionário.1 Tanto assim que os
dados macro econômicos, durante como logo após a campanha de Lula, evidenciavam as
pressões internacionais, o nervosismo do mercado e o iminente retorno da inflação.
Contudo, essas previsões catastróficas não se confirmaram, tendo passado quase dois
anos das eleições.
O novo governo tem mantido o equilíbrio macro econômico nas contas externas do
país, a ponto de receber apoios do FMI e credores estrangeiros. O ponto forte destes
primeiros anos do governo tem sido o das reformas no âmbito administrativo
(previdenciário, tributário, etc), cuja discussão iniciou no governo anterior, mas que só
nesta gestão começaram a implementar-se. É certo que a principais medidas de políticas
sociais e redistribuição da renda ficaram aparentemente restritas ao remanejo e
centralização das políticas compensatórias de combate à pobreza, herdadas do governo
anterior. Mas note-se que não obstante as reclamações de alguns setores mais à
esquerda do PT, sobre as expectativas de redistribuição imediata, o bloco de partidos e
movimentos (e segundo as pesquisas, a maioria dos eleitores) que elegeu Lula
permanece inalterado em seu apoio ao governo (chegando mesmo esse apoio a
expandir-se entre os setores de centro do espectro partidário).2
Por certo, as previsões catastróficas da época da campanha eleitoral, de uma
regressão ao populismo, podem sempre retornar (e confirmar-se), se o país sofrer uma
crise econômica, e de agitação social e política, recaindo no isolamento internacional —
caso em que as negociações com o FMI, a ALCA, e principalmente com os Estados
Unidos entrariam em colapso. Porém, até o momento nem o redistributivismo econômico
1 Sobre o "ressurgimento do populismo"na América Latina ver Torre (1998) e Knight (1998).
2 É certo porém que as pesquisas de opinião, desde Junho de 2004, retratam uma oscilação no apoio ao
governo e ao próprio Presidente, embora ainda mantendo pequena maioria.

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT