Ponte democrata carlos marighella?

Carlos Andreazza

Neste país, decerto como consequência do bem-sucedido projeto brasileiro de deseducação, só se pensa e age em manada, em bando, em patrulha, de modo que não há jeito - a menor chance - de se reconhecer e valorizar, por exemplo, um mérito pontual do regime militar de 1964 sem ser logo chamado de ditador, quando não de torturador.

Trinta anos passados, três décadas de proscrição, de degredo, de petrificação dos malditos, tempo em que o simples referir-se aos militares - que não nos piores termos - significou adesão imediata e incondicional ao que ocorria nos porões. Reconhecer a importância da infraestrutura - a única que temos ainda hoje, diga-se - erigida naquele período? Ora, experimente... Comente, com base nos fatos, que o Brasil depende hoje de obras públicas - de portos, de estradas etc. - construídas pelo regime militar e torne-se de súbito partidário e defensor, signatário do AI-5; um golpista!

Se é que a teve um dia, este país terá de todo perdido a mão para o que seja reflexão, equilíbrio e ponderação; mas não sem estender a outra, ato contínuo, ao ridículo.

Ah, o ridículo!

Outro dia mesmo, enquanto atravessava a Rio-Niterói, peguei-me a perguntar: quanto faltará até que um desses lavadeiros da verdade proponha mudar o nome oficial, Presidente Costa e Silva, da ponte? Era questão de tempo - sempre soube. Intuía, contudo, que a hora se acelerava, pois a tinturaria da história tivera gestão mais eficiente nos últimos anos; ademais, acercávamo-nos dos 50 anos do golpe. Era questão de pouco tempo. E, batata!, tinha poucas dúvidas de que a iniciativa partiria de um dos copidesques do Ministério Público, desocupado progressivamente desde o fim da ditadura e finalmente inútil - tornado sem propósito - com a assunção redentora do povo oprimido ao poder, instante em que, no Brasil, como sabido, nada mais houve a ser investigado, denunciado, enfrentado.

Afinal, bicheiros, traficantes, mensaleiros, milicianos e assassinos de mais de 50 mil brasileiros por ano - tudo isso é passado, vencido, superado, miragens que só possuem materialidade na percepção histérica da classe média manipulada, claro, pela mídia golpista. O perigo - apontam os diligentes revisores do Ministério Público - está nos monumentos, nas placas das ruas, avenidas e estradas, nas fachadas de escolas do interior, em qualquer poste que leve o nome de um militar de 1964, de um ditador daquele período proibido.

Mas, atenção!, só daquele - apenas daquele intervalo...

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT