Funções Administrativas ou Práticas? As 'Artes do Fazer' Gestão na Escola Mirante

AutorRoberta Alvarenga de Almeida - Gelson Silva Junquilho
CargoMestre em Administração, Universidade Federa do Espirito Santo-Vitória-ES, Brasil - Professor do Programa de Pós-Graduação na Unversidade Federal do Espirito Santo-Vitória-ES, Brasil
Páginas180-195
Esta obra está sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso.
Artigo recebido em: 18/04/2012
Aceito em: 03/12/1212
FUNÇÕES ADMINISTRATIVAS OU PRÁTICAS? AS “ARTES DO
FAZER” GESTÃO NA ESCOLA MIRANTE
Administrative Functions or Practices? The “Arts of Making”
Management at Mirante School
Roberta Alvarenga de Almeida Vargas
Mestre em Administração, Universidade Federa do Espirito Santo – Vitória – ES, Brasil. E-mail: roberta.psiufes@gmail.com
Gelson Silva Junquilho
Professor do Programa de Pós-Graduação na Unversidade Federal do Espirito Santo – Vitória – ES, Brasil.
E-mail: gelsonufes@gmail.com
Resumo
O objetivo deste artigo é ampliar a compreensão do
exercício da gestão como fenômeno coletivo, resultante
de práticas construídas pelos sujeitos organizacionais.
O fio condutor foi a conceituação de Certeau (2009)
sobre a vida cotidiana, locus onde sujeitos sociais
desenvolvem “artes do fazer”, por meio de suas práticas.
O estudo empírico foi realizado em uma escola pública
de ensino fundamental, neste artigo, denominada como
Mirante, componente do sistema de educação básica
do município de Vitória (ES). A estratégia metodológica
foi baseada no método etnográfico, desenvolvida
por meio de observação direta, complementada por
entrevistas e documentos formais. A pesquisa mostra
que as “funções administrativas” (FAYOL, 1970) são
(re)construídas socialmente, apropriadas que são por
meio de práticas, resultantes das ações cotidianas de
sujeitos praticantes no seio da escola. Os resultados
apontam a complexidade das “artes do fazer” gestão,
fenômeno este que é coletivo e não exclusivo da ação
de um gestor.
Palavras-chave: Gestão e Práticas Sociais. Cotidiano.
Gestão Escolar. Diretor Escolar.
ABSTRACT
This article aims at broadening the view of management
as a collective phenomenon, resulting from practices
constructed by organizational subjects. Our guideline
was Certeau’s (2009) conception of everyday life,
locus where social subjects develop the “arts of
making” through practice. This empirical study was
carried out at a public elementary school, referred
to in this article as Mirante school. This school is
part of the elementary education system in the City
of Vitória, ES, Brazil. Methodological strategy was
based on ethnographic approach, carried out through
direct observation complemented by interviews and
official documents. The investigation shows that the
“administrative functions” (FAYOL, 1970) are socially
and appropriately (re)constructed through practices
resulting from everyday actions by the subjects in the
heart of the school. The results point at the complexity
of the “arts of making” management, a phenomenon
that is collective and not exclusively based on the actions
of a manager.
Key words: Management and Social Practices.
Everyday Life. School Management. School Principal.
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-8077.2013v15n35p180
181
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Funções Administrativas ou Práticas? As “Artes do Fazer” Gestão na Escola Mirante
1 INTRODUÇÃO
No atual cenário dos Estudos Organizacionais
brasileiros, observa-se uma predominância de abor-
dagens sociológicas da gestão voltadas às generaliza-
ções e definições de modelos. Tais trabalhos, por não
considerarem as diversas atividades humanas desem-
penhadas no cotidiano das organizações, com todo
seu dinamismo e sua complexidade, têm produzido
investigações descoladas da realidade vivida nesses
espaços, mostrando-se, portanto, insuficientes para
compreender as práticas de gestão (SANTOS; ALCADI-
PANI, 2010). Nesse sentido, Certeau (2009), há muito,
constatou um distanciamento entre os tradicionais
instrumentos teórico-metodológicos de investigação
utilizados no meio acadêmico e a riqueza inventiva
presente nas “práticas ordinárias”. Ao longo de sua
obra, o autor discorreu sobre uma “teoria das práticas”,
na qual valoriza o vivido, o ordinário e o efêmero em
detrimento de uma analítica da certeza científica.
A partir desse entendimento, este artigo tem por
objetivo contribuir para a superação de estudos que
versam sobre gestão, a partir da ação protagonista
dos gestores (FAYOL, 1970; MINTZBERG, 1973) pela
proposição da gestão como resultante das “artes do
fazer” de distintos atores (CERTEAU, 2009), dentre
eles os gestores, nos cotidianos organizacionais. Para
tanto, o cotidiano, em toda a sua complexidade de
relações sociais nas organizações, por meio de práticas
construídas e tecidas pelos seus sujeitos, é eleito como
dimensão fundamental de análise das “artes do fazer”
gestão. De maneira mais específica, pretende-se retratar
como se configura o fenômeno da gestão, no cotidiano
de uma escola pública, tomando-se como base alguns
conceitos apresentados por Certeau (2009).
Tal abordagem contribui para uma compreensão
distinta de estudos clássicos na literatura internacional
(BARNARD, 1938; DALTON, 1959; KOTTER, 1982;
MINTZBERG, 1973, 1990) que trouxeram uma crítica
importante à definição de gestão apregoada por Fayol
(1970), por intermédio das “funções administrativas”.
Esses estudos foram fundamentais, pois problemati-
zaram a gestão para além de um receituário pragmá-
tico a ser aplicado pelos gestores para o alcance de
resultados. Entretanto, ainda que tenham apontado
perspectivas distintas para a compreensão da gestão
como fenômeno processual, aqueles autores elege-
ram sempre o gestor como unidade de análise, ora
destacando características do trabalho gerencial, ora
a própria ação gerencial de forma isolada e restrita ao
microcosmo organizacional.
Logo, o foco dessas análises é aquilo que os
executivos fazem e como utilizam seu tempo. Michael
Reed (1984, 1989) permitiu que se identificassem as
limitações daqueles autores no tocante ao conceito
de gestão ao elaborar a ideia da “gestão com prática
social”. Em sua abordagem é proposta a análise da
gestão a partir da integração entre os níveis institucio-
nal, organizacional e comportamental que contempla,
ao mesmo tempo, tanto a ação gerencial, quanto a
dinâmica da organização e o contexto macroestrutural.
Essa proposta configura-se como uma alternativa que
contempla não apenas a gestão como processo, mas
também como resultante de práticas sociais. Mais re-
centemente, o estudo das “práticas” nas organizações
foi também explorado por Schatzki (2005, 2006). Por
essa concepção, o citado autor busca a compreensão
da gestão de um modo mais aproximado a “como ela
acontece”, ou seja, reforça a necessidade de apro-
ximações à realidade organizacional cotidiana para
contemplar sua dinâmica.
No Brasil, diversos autores discorreram acerca
das práticas gerenciais, ressaltando a complexidade
do fenômeno da gestão à luz da “gestão como prática
social” (REED, 1984; 1989), dentre os quais, Marra e
Melo (2005); Ésther e Melo (2006); Paiva et al. (2007);
Garcia (2003) entre outros. No entanto, percebe-se que
esses estudos, mesmo utilizando-se da abordagem da
prática social, comumente têm limitado suas análises à
prática do gestor, ou seja, enfatizam a ação gerencial.
Neste artigo, a opção por Certeau (2009) permite
não só avançar nos estudos que possam tratar a gestão
para além da ação gerencial de forma isolada, como
também aprofundar a proposta de inserção da prática
social, defendida por Reed (1984, 1989) e Schatzki
(2005, 2006). Entende-se que a abordagem de Certeau
(2009) tem muito a contribuir nessa caminhada, já que
o foco de análise não é a ação gerencial em si como
algo isolado e sim, as práticas sociais daí emergentes.
Porém, não se trata só de descrever práticas, mas sim
realçar como elas são operadas pelos sujeitos sociais,
cotidianamente, nas organizações onde se constroem
os processos de gestão, neles inseridos não só o gestor,
mas distintos sujeitos praticantes que desenvolvem

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