Preciosas e desconcertantes reflexões de walter benjamin

Da política à arte, textos do pensador evidenciam seu método de colecionar imagens e fragmentos de ideias, apresentando-os em novos contextosMárcio Seligmann-SilvaColetânea. Na obra, organizada pelo sociólogo Michael Löwy, Benjamin aborda temas diversos como o capitalismo, a escravidão e a arteArquivoFilosofia"Ocapitalismo como religião" é o título de um pequeno fragmento de Walter Benjamin, de 1921, deixado sob a forma de um rascunho. Também esse título foi escolhido por Michael Löwy para dar nome ao rico volume com textos coligidos de Benjamin, agora publicado pela editora Boitempo. Para o filósofo de Berlim, conforme lemos nesse fragmento, o capitalismo responderia às mesmas preocupações e anseios a que antes as religiões tentavam responder. Os santos dessa nova religião, que se alimenta de culpa, são as efígies das cédulas de dinheiro. Essa religiosidade, no entanto, não seria superada pelo comunismo, já que com Marx "o capitalismo impenitente se converte em socialismo, com juros e juros sobre juros". Em alemão, vale lembrar, culpa e dívida estão unidos na mesma palavra: Schuld .Ademais, no artigo-montagem "De cidadão do mundo a grão-burguês", uma alucinante colagem de textos de língua alemã, Benjamin retoma a seguinte passagem de Adam Heinrich Müller, da virada do século XVIII para o XIX, que já mostra como as mazelas do capitalismo atual vêm de uma longa história: "Escravidão financeira, o tipo de escravidão reinante no momento, é o pior tipo porque está associada a sentimentos mentirosos de suposta liberdade." E com as palavras de Johann G. Herder, o grande filósofo e teórico da História, Benjamin mostra que a prática da escravidão propriamente dita não é avessa à "moral" do capitalismo: "Na Europa", escreveu Herder em 1794, "a escravidão foi abolida, porque se calculou quanto esses escravos custariam mais e produziriam menos que pessoas livres; só uma coisa ainda nos permitimos: usar três partes do mundo como escravos, negociá-los, bani-los para minas de prata e moinhos de açúcar." Lembremos do Brasil de então.Já com auxílio de Heinrich Heine, ficamos sabendo que até os comunistas são "cristãos", só que "muito melhores" do que os nacionalistas alemães. Heine, de resto, estaria disposto a abrir mão de sua poesia a favor desse novo mundo comunista. Com entusiasmo revolucionário, em 1856, à beira da morte, ele declara: "Que seja demolido este velho mundo, onde morreu a inocência, onde vingou o egoísmo, onde o ser humano morreu de fome por ação do ser...

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