Agentes produtivos e desenvolvimento: polo naval e capacidade de inovação no Rio Grande do Sul

AutorSandro Ruduit Garcia
CargoDoutor em Sociologia e professor adjunto no Departamento de Sociologia e no Programa de Pós-graduação em Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre - Brasil
Páginas89-114
Política & Sociedade - Florianópolis - Vol. 12 - Nº 24 - Mai./Ago. de 2013
8989 – 114
Agentes produtivos e
desenvolvimento: polo naval
e capacidade de inovação
no Rio Grande do Sul1
Sandro Ruduit Garcia2
Resumo
O artigo tenta identif‌icar novas dinâmicas de desenvolvimento econômico e social no Brasil, en-
focando incentivos governamentais e de mercado à constituição de um polo de construção naval
na cidade de Rio Grande, na segunda metade dos anos 2000. Analisa as respostas dos agentes
produtivos em termos da expansão da capacidade de inovação, traduzida em externalidades cria-
das pela aglomeração espacial de empresas, nas capacidades dos recursos humanos e, especial-
mente, em iniciativas de universidades do estado do Rio Grande do Sul. A hipótese em discussão
é a de que os agentes produtivos tenderiam a responder a novos estímulos governamentais e de
mercado com a criação de redes de colaboração aplicadas à produção de conhecimentos especí-
f‌icos e de inovação. Os dados resultam de entrevistas com gestores de estaleiros, do porto e de
universidades realizadas no primeiro semestre de 2011, em Rio Grande, Pelotas e Porto Alegre,
assim como de diferentes fontes secundárias (documentos e bases estatísticas).
Palavras-chave: Desenvolvimento econômico. Inovação. Indústria naval.
1 Este artigo foi apresentado no XV Congresso Brasileiro de Sociologia, GT Sociologia Econômica, expressando
resultados preliminares do projeto de pesquisa Aglomerações industriais, tecnologia e trabalho: efeitos sociais
do polo naval de Rio Grande, coordenado pelo autor e f‌inanciado pelo CNPq. A pesquisa contou com a valio-
sa colaboração dos bolsistas de iniciação científ‌ica Gabriella Rocha de Freitas e Rodrigo Foresta Wolffenbüttel.
2 Doutor em Sociologia e professor adjunto no Departamento de Sociologia e no Programa de Pós-graduação
em Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Brasil. É autor de artigos
publicados nas revistas Sociologias (UFRGS, 2010), Revista Brasileira de Ciências Sociais (Impresso) (2009),
Civitas (Porto Alegre, 2007), entre outras. É autor da obra Global e Local: o polo automobilístico de Gravataí
(Annablume, 2009). E-mail: sandro.ruduit@ufrgs.br.
http://dx.doi.org/10.5007/2175-7984.2013v12n24p89
Agentes produtivos e desenvolvimento: polo naval e capacidade de inovação no Rio Grande do Sul | Sandro Ruduit Garcia
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1. Introdução
Os países emergentes deparam-se, nesta segunda década do século 21,
com novas janelas de oportunidades ao desenvolvimento de suas economias
e sociedades. Mudanças importantes nas regras das relações de troca interna-
cionais, na organização e na dinâmica dos sistemas produtivos e nos valores e
crenças de agentes e comunidades têm sido registradas, na literatura sociológi-
ca, pelos conceitos de globalização (THERBORN, 2000), informacionalismo
(CASTELLS, 1999) e risco (GIDDENS, 2010). Sem entrar em detalhes sobre
essa literatura, que é vasta e já bastante conhecida, interessa chamar a atenção
para o fato de que tais mudanças estão a requerer novas estratégias institucio-
nais e a atuar na orientação dos agentes produtivos no sentido de privilegiar o
conhecimento e a inovação como motores da vida econômica. Esse processo é
bastante conhecido no que se refere à realidade dos países altamente industria-
lizados, com instituições e mercados maduros e com uma longa e consolidada
trajetória de atividades de inovação pelos agentes produtivos. Porém, é ainda
escassa a literatura sobre essas novas dinâmicas no contexto de economias e
sociedades emergentes. Neste artigo, tenta-se melhor conhecer aspectos dessas
mudanças nas regras e dinâmicas de desenvolvimento econômico e social no
contexto da realidade do Brasil. Essa busca orienta-se pela seguinte indagação:
Como agentes sociais imersos em relações localmente situadas reagiriam às
recentes mudanças nas regras de desenvolvimento econômico?
Ao considerarem-se contribuições e limites de abordagens bastante in-
uentes sobre o problema, como a abordagem das relações centro–periferia no
sistema mundial e a dos sistemas de inovação, busca-se reconhecer (e melhor
precisar) os mecanismos institucionais (governamentais e de mercado) e os
arranjos sócio-organizacionais mobilizados pelos agentes sociais na produção
de inovação nesse novo contexto de desenvolvimento econômico. A hipótese
em discussão é que os agentes produtivos tenderiam a responder aos novos
estímulos governamentais e de mercado com a criação de redes de colaboração
aplicadas à produção de conhecimentos especícos e de inovação. Supõe-se
que a tecedura de redes pelos agentes seria um meio para acessar e mobilizar
recursos relevantes para a capacidade de inovação, envolvendo uma comple-
xa e habilidosa conjugação entre conhecimentos tácitos e codicados, próxi-
mos ou distantes, com vistas ao aproveitamento de janelas de oportunidades ao
desenvolvimento.

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