Reflexões sobre a condição do artista contemporâneo na luta contra os discursos oficiais: Paul Auster, a literatura e a história

AutorLilian Reichert Coelho
CargoProfessora Adjunta da Universidade Federal de Rondônia, campus de Vilhena, no curso de Comunicação Social-Jornalismo. Doutora em Letras pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Páginas210-240
DOI: 10.5007/1807-1384.2010v7n2p210
REFLEXÕES SOBRE A CONDIÇÃO DO ARTISTA CONTEMPORÂNEO NA LUTA
CONTRA OS DISCURSOS OFICIAIS: PAUL AUSTER, A LITERATURA E A
HISTÓRIA
REFLECTIONS ON THE STATUS OF THE CONTEMPORARY ARTIST IN THE
STRUGGLE AGAINST THE OFFICIAL DISCOURSES: PAUL AUSTER,
LITERATURE AND HISTORY
REFLEXIONES SOBRE LA CONDICIÓN DEL ARTISTA CONTEMPORÁNEO EN
LA LUCHA CONTRA LOS DISCURSOS OFICIALES: PAUL AUSTER, LA
LITERATURA Y LA HISTORIA
Lilian Reichert Coelho
1
RESUMO:
Apresenta-se uma leitura de A Trilogia de Nova York (1987), Leviatã (1992) e
Desvarios no Brooklyn (2005), de Paul Auster, sob o prisma da articulação entre
subjetividades e discursos, notadamente o literário e o historiográfico. O trabalho
guiou-se pela observação da crítica engendrada pelo escritor no que tange ao mito
da nação estadunidense, na perspectiva de que tal movimento ressoa críticas de
outros escritores, sobretudo da própria literatura norte-americana, dos quais Auster
apresenta-se como herdeiro genealógico. Ao revolver as entranhas históricas e
discursivas sobre a “origem” da nação estadunidense, o escritor propõe reflexões
sobre a questão da identidade nacional, sobretudo no que concerne aos símbolos e
ao modo como as personagens lidam com as representações oficiais.
Palavras-chave: Discurso. Literatura. História. Nação.
ABSTRACT:
We present a reading of The New York Trilogy (1987), Leviathan (1992) and The
Brooklyn Follies (2005), by Paul Auster, through the articulation between
subjectivities and discourses, notably literature and history. The effort was guided by
the observation of the criticism constructed by the writer in relation to the United
States‟ national myth, in the perspective of a movement that resounds other writers‟
criticism, overall the north-American ones, among which Auster presents himself as a
genealogical heir. In digging the discursive and historical viscera on the originof the
American nation, the writer presents some reflections on the national identity issue,
1
Professora Adjunta da Universidade Federal de Rondônia, campus de Vilhena, no curso de
Comunicação Social-Jornalismo. Doutora em Letras pela Universidade Federal da Bahia (UFBA),
Mestre em Estudos Literários pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), graduada em
Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). E -mail:
lilian_reichert@yahoo.com.br
Esta obra foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição-Uso Não-
Comercial-Não a obras derivadas 3.0 Unported.
211
R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.7, n.2, p. 210-240, jul/dez. 2010
mainly in relation to the symbols and to the way the characters deal with the official
representations.
Keywords: Discourse. Literature. History. Nation.
RESUMEN:
Se presenta una lectura de La Trilogía de Nueva York (1987), Leviatán (1992) y
Desvarios en Brooklyn (2005), de Paul Auster, bajo el prisma de la articulación entre
subjetividades y discursos, especialmente en el c ampo literario e historiográfico. El
trabajo se basó en la observación de la crítica generada por el escritor en lo que se
refiere al mito de la nación norteamericana, en la perspectiva de que tal movimiento
se hace eco de las críticas de otros escritores, especialmente de la propia literatura
norteamericana, de los cuales Auster se presenta como heredero genealógico. Al
revolver las entrañas históricas y discursivas sobre el “origen” de la nación
norteamericana, el escritor propone reflexiones sobre la cuestión de la identidad
nacional, especialmente con respecto a los símbolos y al modo como las personajes
tratan las representaciones oficiales.
Palabras clave: Discurso. Literatura. Historia. Nación.
História e Literatura são discursos oficiais escarafunchados e
(des)(re)interpretados pela perspectiva crítico-estético-teórica do escritor
estadunidense contemporâneo Paul Auster. O caráter científico, de discurso
legitimador, da História, assume contornos de dúvida, de suspeita, na
posicionalidade instalada pelo escritor. A eloquência de Auster estrutura-se
criticamente em relação ao discurso fundador e sua repercussão na
contemporaneidade, configurando-s e como abordagem questionadora da história,
da ciência e da literatura, entendidas como construções humanas marcadas por
inegável ímpeto organizador, portanto, narrativas como as que ele mesmo erige.
Compreendido como “regime de verdade” (cf. FOUCAULT, 2003), o discurso
historiográfico autorizado constrói uma versão, que Auster procura esgarçar até os
limites, ao expor s eu caráter ficci onal, a partir da instalação de relações “novas”, não
tributárias dos regimes sociais validados sob chancela da verdade. Vale notar que a
verdade do discurso histórico oficial não é substituída por outra interpretação
orientada pela vontade de verdade; o serviço limita-s e ao acréscimo da dúvida sob o
olhar desconfiado do artista. As relações entre literatura e historiografia não são
estabelecidas por Auster em termos de oposição, mas, de qualquer modo, pode-se
dizer que a primeira incide sobre a segunda de modo avaliador, crítico. O esforço
literário do escritor revela não apenas consciência sobre a realidade entendida de

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT