Revolta e futebol

Roberto DaMattaMARCELOFoi uma semana marcada por revoltas e conflitos. Os embates vão das disputas em aberto das terras terena pelos fazendeiros a uma surpreendente onda de tumultos urbanos motivados pela total inércia dos governantes diante do caos que todos vivemos nas cidades brasileiras sem transporte urbano, com um nível de criminalidade que tangencia ao da guerra civil e pela impossibilidade de usar o automóvel por falta de espaço e educação cívica.A revolta contrasta com o futebol - esse conflito aberto, mas com tempo, espaço e regras explícitas. A revolta causa prejuízo e mal-estar. O pé na bola é uma fábrica de dinheiro e, entre nós, de toda uma afirmação do mundo. Afinal, o que é melhor: ser cinco vezes campeão do mundo ou ter inventado (usado) a bomba atômica?Tanto o interior quanto o litoral ressuscitam conflitos reprimidos a exigir justiça, eficiência e honestidade pública. Justiça para os usuários pagadores de impostos e dependentes de transporte público e para os chamados "índios", cujas terras foram reconhecidas e demarcadas para depois serem - eis o absurdo - "desreconhecidas". Aqui, estamos diante de uma nova figura legal que simboliza o neoindigenismo do governo Dilma. Ao lado de um pró-capitalismo que distribui empréstimos e concessões aos companheiros, surge um aviltante anti-indigenismo em contramão ao legado de Rondon, de Darcy Ribeiro, dos Villas-Bôas, de Noel Nutels, e de todos quantos têm alguma preocupação com a responsabilidade para com essas humanidades que, por acaso, estão dentro do nosso território. Os antropólogos foram colocados sob suspeita. Seus laudos periciais vistos como bons demais para os indígenas. A Funai foi desmontada. Nunca antes na história desse país a questão indígena foi solucionada com tanto desembaraço. Agora, ela será administrada por um "conselho" - esse formato administrativo que desde Dom João Charuto é usado para nada resolver.Ao lado desse conflito, testemunhamos demonstrações de violência urbana que nos tiram do prumo. Para quem viu a chamada revolta das barcas, na Niterói de 1959 - um protesto que levou a multidão a incendiar a residência dos donos da empresa, deixando um saldo de 6 mortos e 118 feridos e um belo estudo sociológico realizado por Edson Nunes -, a memória não pode deixar de anotar como o estar entre a casa e a rua é um momento...

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