Um Rio de fatos além dos mitos

Cesar Baima (cesar.baima@oglobo.com.br)RIO - Mem de Sá e Estácio de Sá, Salvador Corrêa. Botafogo, Flamengo, Catete e Copacabana. Nomes familiares aos cariocas, mas de motivações ou origem conhecidas por poucos habitantes da cidade. Desde sua fundação, o Rio de Janeiro se reinventa e se renova. No processo, no entanto, apagou as marcas do passado e esqueceu sua história. A saga do Rio é o tema do livro "1565 - Enquanto o Brasil nascia" (Ed. Nova Fronteira). Escrito por Pedro Doria, editor-executivo de O GLOBO, não é um livro de História convencional, com análises acadêmicas ou documentos inéditos. Com olhar jornalístico, explora fatos, personagens, razões e ações, nobres ou não, que ajudaram a erguer, no então selvagem Sudeste do Brasil dos séculos XVI e XVII, a futura capital do Império e da República.- Não tenho coisa nova para contar, nada do que está no livro não foi publicado em algum outro lugar antes - diz Doria. - Historiadores costumam buscar a compreensão de grandes fenômenos. Já nós, jornalistas, nos dedicamos a contar bem histórias através de seus personagens. Não que o livro ignore os grandes momentos, mas o que ouvimos nele são as vozes de pessoas que nos falam através dos séculos. Espero ter escrito um livro que seja divertido de ler, que revele para os leitores quem foram essas pessoas e o que as movia, mesmo as que permanecem anônimas. São causos e histórias que de certa forma dão uma noção de como eram o cotidiano e as lutas da época. De repente, você vai vendo esta cidade toda sendo construída e ela começa a fazer sentido. Podemos entender por que as coisas são assim.O artilheiro BotafogoEntre os casos está o do português João Pereira de Sousa. Fugindo de dívidas na sua terra natal na Europa, ele foi parar em Santos, onde acabou recrutado por Estácio de Sá para participar da expedição que em 1565 culminou na fundação do Rio de Janeiro. Artilheiro, seu posto era o canhão, o que lhe valeu o apelido de "Botafogo", herdado por bairro e clube. Ou então a história de um anônimo "peruleiro", alcunha dada aos comerciantes que faziam a lucrativa rota entre as minas de ouro e prata do Peru e o Rio, escala e entreposto comercial para os traficantes de escravos de Angola que trabalhavam no garimpo da América espanhola nos tempos da União Ibérica (1580 a 1640, quando Portugal e Espanha tiveram o mesmo rei). Um dia, um deles bateu à porta da Santa Casa, instalada aos pés do Morro do Castelo, pedindo morada para uma imagem de Nossa Senhora adornada...

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