Sal a gosto

u já estive em outros fins de mundo, como esse que mais uma vez se anuncia para 2012, e não quero ser estraga-prazeres. É frustrante. Você fica de olho no céu esperando que uma bola de fogo saia como uma erupção da base da estátua do Redentor, e, lá pelas três da madrugada, percebe morto de sono que não vai acontecer nada. Você está vivo. Eu não compraria ingresso para o show do fim do mundo de 2012. O Senhor dos Raios, responsável em pôr termo à essa nossa civilização chinfrim, sempre dá uma de João Gilberto. O Cara simplesmente não comparece.Foi assim nos anos 1970, quando uma multidão de hippies acampou em Saquarema, alertada para mais um fim dos tempos. Eu estava lá. Mais uma vez não vi.Anunciava-se o evento, como se fosse um show do Vímana, o Pink Floyd carioca, pelo jornal "Flor do Mal". Astrólogos garantiam a aterrissagem de uma esquadrilha de discos voadores. Eles trariam a arma definitiva que nos libertaria desse inútil sofrimento terráqueo. Seriam os novos deuses, fariam a faxina necessária para implantar em seguida uma raça mais viajandona, que não se amarrasse em dinheiro, não, mas na vida em grupo, na paz e no amor, bicho, que eram os mitos de felicidade nos 1970. Era a década do desbunde. Drogas por todos os lados. A comunidade dos Novos Baianos em Jacarepaguá, da mesma maneira que a Apple hoje no Vale do Silício, anunciava aquele modo de vida como o futuro da civilização.Todos os hippies de Rio e São Paulo foram para o descampado em Saquarema, uma pista perfeita para a chegada dos discos. Os tripulantes das naves, continuava a revista "Planeta", exterminariam os ditadores da época, transformariam em vapor branco os fumadores de maconha e colocariam no poder uma nova ordem mundial. Namorou-se muito na noite de Saquarema, apertou-se de tudo, mas o fim do mundo que estava na conclamação deu uma de João - alegou falta de gasolina nos motores dos discos, fumaça demais dificultando a visão do pouso, não me lembro -, e o fim do mundo mais uma vez não aconteceu.A ideia de que vai acabar e não ficará Redentor sobre a montanha, tudo tão rápido que não dará tempo sequer de digitar os 140 toques no Twitter com a maior notícia de todos os tempos desde a Criação - a possibilidade de fim do mundo para 2012 - não é necessariamente apavorante. Pode criar uma ânsia especulativa, de saber se com uma praga de gafanhotos ou um tsunami que encheria o Rebouças de polvos famintos. De resto, resolveria os inevitáveis planos do que se fazer com os próximos dias.Eu...

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