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Claro que Milton não era o único brasileiro a ser mais atraído por aqueles desdobramentos. Conheci dezenas de amantes da música que, no início dos anos 60, tendiam mais para o culto dos Zimbos e Tambas, do Donato do "Muito à vontade" - e das canções de Edu, fundamente informadas pela riqueza harmônica da bossa nova mas saindo para modos do Nordeste e para paisagens sonoras mais grandiosas. Mas Milton fez de tudo isso um mundo novo. Eu próprio, admirador de Edu (apesar de manter fidelidade estética e crítica ao minimalismo do Jobim de João), compus, em 1964, a canção "Boa palavra", que o próprio Milton, anos depois, me disse ter sempre amado. Mas não só eu não tinha adesão estética total ao que se insinuava nessa segunda fase do momento bossanovista da nossa canção: faltava-me o talento musical para produzir algo orgânico. Terminei, no apego à exigência joãogilbertiana, indo para o ruidismo roqueiro e para a mirada pop da produção cancional.Muito mais musical do que eu, Gil percebeu a força e o significado de Milton. Bastou-lhe ouvi-lo cantar a música de Baden no festival da TV Excelsior. Quando, pouco depois, ele tomou conhecimento das composições do mineiro, era-lhe evidente que Milton era a coisa mais importante que tinha acontecido à música brasileira. De minha parte, embora me fosse óbvio que "Canção do sal" e "Travessia" fossem composições belas, só comecei a perceber...

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