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Se tivesse havido consciência do valor estético (e não só estético) da estrutura urbanística e arquitetônica de Salvador na altura em que Welles viu a cidade - ou quando eu vim de Santo Amaro - e tivéssemos podido planejar a modernização mantendo-a (o que não é nada impossível: as cidades europeias são ao mesmo tempo mil vezes mais modernas e mil vezes mais preservadas do que as nossas), teríamos hoje uma joia do Atlântico Sul, em lugar do caos que vemos. Seria preciso termos tido uma história muito diferente. O que excita é a esperança inacreditavelmente renovada de que, apesar de tudo, ainda vai dar para fazer alguma coisa. E a certeza maluca de que se fizermos será algo grandioso, como a entrada no Reino do Espírito Santo. Digo que a esperança se renova inacreditavelmente e que a certeza é maluca porque o olhar realista para a feiura visual e social produz ceticismo. Sem o qual, é verdade, nada faremos. Mas na maior parte das vezes ele nos deixa imobilizados.Mais do que quase nunca, estou sentindo aquele antigo bem de estar na Bahia que reencontro tão puro em meu filho Moreno. É uma gratidão infinita por simplesmente estarmos aqui. A brisa, as cores, a luz confirmam. Mas o sentimento independe de demonstrações óbvias por parte do lugar. No meio do ano passado, eu estava indo com Moreno da parte do Rio Vermelho onde ele tem apartamento para a parte do Rio Vermelho onde tenho uma casa. Era noite, fazíamos um retorno...

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