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*"O sr. de Charlus chegara àquela idade em que um Victor Hugo gosta de se cercar sobretudo de Vacqueries e Meurices. Punha acima de todos os outros aqueles que tinham sobre a vida o ponto de vista dele." Paul Maurice e Auguste Vacquerie eram discípulos de Hugo. Proust observa em Charlus uma espécie de cansaço vaidoso, condescendente consigo mesmo, um afrouxamento de espírito por parte de alguém que, tendo conquistado certo reconhecimento, não mais se dispõe a medir-se com a diferença e enriquecer-se pelo atrito, antes entregando-se aos bajuladores, transformados em Entourage . Não é afinal esse o ponto a partir do qual um artista ou pensador envelhece? A partir do qual um sujeito ou uma obra deixa de se colocar Em questão ? A partir do qual um sujeito se deixa Datar ? (É precisamente o compromisso incansável com a atitude oposta que tanto admiramos, por exemplo, na figura de Caetano Veloso: ao invés de se entronizar, de se sentar sobre os louros de um feito, seu tempo é quando, sua medida é a diferença, seu eu é sempre outro.)* Proust compara a situação de alguém que, dormindo em hora socialmente condenável, esforça-se por parecer que já estava acordado, ao "esforço de equilíbrio feito por alguém que, saltando de um trem em movimento, corre um instante ao longo da linha e consegue não cair". A metáfora, ou melhor, a analogia (aquela suprime um dos termos da comparação, enquanto essa explicita-os ambos) é de uma precisão notável: por vergonha social nos lançamos do meio veloz do sonho direto para o solo inerte da realidade, procurando aparentar segurança e equilíbrio, como um bêbado diante de um policial. (Hoje em dia, por causa dos filhos, acordo cedo - até demais -, mas quando eu levava uma vida "solta" de escritor gostava de atender o telefone com voz de sono, no meio da tarde, como um pequeno gesto de...