A utilização de testes de hipótese paramétricos em pesquisas científicas

AutorVilmar Antonio Gonçalves Tondolo; Luís Carlos Schneider
CargoMestre em Administração pela Unisinos, Professor do Curso de Administração da FSG, Consultor de Empresas./Mestre em Administração pela Unisinos, Professor do Curso de Administração da FAPA, Consultor de Empresas
Páginas147-167

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1 Introdução

Dentro do método de pesquisa, existem dois processos que em geral são sensivelmente relacionados: a análise e a interpretação. No processo de análise, o pesquisador deve organizar e resumir os dados a fim de que seja possível responder ao problema de investigação. Já no processo de interpretação, o pesquisador procura dar sentido às respostas, ligando a análise ao referencial teórico (GIL, 1991).

Além de organizar e resumir os dados, Cooper e Schindler (2003) relatam que, na análise dos dados, o pesquisador deve procurar buscar padrões e aplicação de técnicas estatísticas. Já na interpretação, os mesmos autores colocam que o pesquisador pode interpretar os resultados obtidos com análise sob a ótica da questão de pesquisa, procurando verificar consistência dos resultados através de hipóteses e da teoria.

A análise dos dados não é uma atividade fim na pesquisa, mas um meio para que o pesquisador aborde o problema de estudo (MALHOTRA, 2001). O mesmo autor apresenta cinco etapas no processo de escolha de uma estratégia para análise de dados, como segue: (i) etapas iniciais da pesquisa (método de abordagem, definição do problema, planejamento da pesquisa); (ii) características conhecidas dos dados; (iii) propriedades de técnicas estatísticas; (iv) formação e pesquisa do pesquisador; (v) estratégia de análise de dados.

Em atenção às pretensões deste trabalho, julga-se conveniente focar de forma breve a terceira etapa do modelo acima exposto. O autor aborda que o pesquisador deve prestar atenção nas propriedades, objetivos e premissas das técnicas estatísticas. Cada técnica possui determinado objetivo, por exemplo, umas se adaptam ao exame das diferenças entre variáveis, já por outro lado, outras de adaptam ao exame da magnitude das relações entre as variáveis. Complementando, cada técnica possui premissas básicas. Algumas técnicas suportam certo nível de violação; outras, porém, não possuem esta espécie de flexibilidade.

Dentro deste contexto metodológico, e tendo em vista que os testes de hipóteses se configuram em uma técnica estatística robusta de análise e interpretação de dados, o objetivo deste trabalho é montar um referencial básico que possa auxiliar os pesquisadores na utilização dos testes de hipóteses paramétricos.

Além desta seção introdutória, o presente artigo está estruturado nas seguintes seções: (2ª) Base teórica dos testes de hipóteses paramétricos; (3ª) Metodologia; (4ª) Aplicação dos testes de hipóteses paramétricos e, completando, apresentamos as considerações finais.

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2 Base teórica dos testes de hipóteses paramétricos

A fim de atender ao objetivo pretendido neste estudo, esta seção se dedica ao referencial teórico, na qual trataremos dos seguintes pontos: (i) estatística inferencial; (ii) hipótese estatística; (iii) lógica e método do teste de hipótese; (iv) testes de hipóteses paramétricos.

2. 1 Estatística inferencial

A estatística inferencial compreende as técnicas por meio das quais são tomadas decisões sobre uma população estatística, decisões estas baseadas unicamente na observação de uma amostra probabilística ou na elaboração de um juízo. Devido ao fato de que tais decisões são tomadas em condições de incerteza, requer-se, na estatística inferencial, o uso de conceitos de probabilidade. Enquanto as características de uma amostra se denominam estatísticas da amostra, as medidas características de uma população, estatística, ou universo, denominam-se parâmetros da população (KAZMIER, 1982).

Parâmetro é alguma característica dos elementos da população (BARBETA, 1999), por exemplo, na população descrita no Gráfico 1, a percentagem de famílias em que o chefe da casa possui o segundo grau de instrução é um parâmetro.

Gráfico 1 – Grau de instrução do chefe da casa.

[VEA EL GRÁFICO EN EL PDF ADJUNTO]

Fonte: Adaptado de Barbeta (1999).

O ato de generalizar resultados da parte (amostra) para o todo (população) é conhecido como inferência estatística. A estimação de parâmetros é uma forma de inferência estatística. No entanto, outra forma de inferênciaPage 150 estatística surge quando há alguma hipótese sobre a população em estudo. E, se pretendemos verificar a sua validade a partir de uma amostra, são chama dos de testes de hipóteses. Da mesma maneira, para inferir adequadamente se as diferenças, observadas na amostra, também existem em toda a população, é necessário verificar se elas não podem ocorrer meramente pelo acaso. O estudo de métodos de hipóteses facilita a solução deste tipo de problema (BARBETA, 1999).

2. 2 Hipótese estatística

Entende-se por hipótese uma afirmação ou conjectura sobre um parâmetro, ou parâmetros, de uma população; pode também se referir ao tipo, ou natureza, da população. (FREUND e SIMON, 2000, p. 211). Uma hipótese pode ser vista como uma proposição testável, a fim de tornar-se uma solução para determinado problema de pesquisa (GIL, 1996). Corroborando, a hipótese é uma proposição afirmativa, de natureza tentativa e conjetural. Em geral, formulada para testes empíricos, mas também como declarações para variáveis de casos (COOPER e SCHINDLER, 2003). Segundo esses autores, o sentido da hipótese é atribuir ao caso uma variável ou característica de análise. As formas de se propor hipóteses estão descritas no Quadro 1.

Quadro 1 – Formas de proposição das hipóteses


Forma Atributos Exemplos
Hipótese
descritiva
Em geral declaram existência, tamanho, forma
ou distribuição de alguma variável. Os pesquisadores
freqüentemente usam uma pergunta,
em vez de usar uma hipótese descritiva.
As vantagens do formato descritivo são:
– possibilitar relações entre variáveis;
– possibilitar a reflexão sobre os achados;
– e, possibilitar testes de significância.
Em Detroit (caso), a taxa de desemprego
sazonalmente ajustada em
outubro (variável) fica em torno de
3% da força de trabalho.

Ou, qual é a taxa de desemprego em
Detroit?
Hipótese
Relacional
O formato de pergunta é pouco utilizado. São
declarações que descrevem uma relação entre
duas variáveis a respeito a um caso.
Os consumidores norte-americanos
acham (caso) que os veículos estrangeiros
(variável) têm melhor qualidade
(variável) do que os carros nacionais.
Hipóteses
Correlacionais
Declaram que as variáveis ocorrem juntas,
especificadamente, sem implicar relação
causal.
As pessoas em Atlanta avaliam o
presidente de uma forma mais favorável
do que as pessoas em St. Louis.
Hipótese
Exploratória
Há uma implicação de que a existência de uma
variável ou a mudança nessa variável causam
ou geram mudança em outra variável.
Um aumento na renda familiar (VI)
leva a um aumento no percentual de
renda poupado (VD).

Fonte: Adaptado de Cooper e Schindler (2003, p. 58-59).

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Em geral, não existem regras estruturadas para que se alcance a proposição de uma hipótese. Mas, existem fontes de inspiração que podem facilitar o esforço do pesquisador em sua investida de formulação de uma hipótese. Neste ponto, Gil (1996) aponta quatro principais fontes, como segue: (i) observação, fatos observados fornecem fortes indícios de problemas da ciência; (ii) resultados de outras pesquisas, esta fonte conduz a conhecimentos mais amplos que a simples observação; (iii) teorias, permite um sensível elo de ligação com um conjunto diverso de conhecimento; (iv) intuição, palpites e intuições muitas vezes conduzem a importantes descobertas.

Segundo Cooper e Schindler (2003), o papel das hipóteses pode ser: focar o estudo; identificar os elementos relevantes; permitir a escolha da estratégia de pesquisa mais adequada; possibilitar a organização dos resultados. Para os mesmos autores, a hipótese indica o quem deve ser estudado, em que contexto e o que deve ser estudado.

De acordo com Cooper e Schindler (2003, p. 59), uma hipótese deve atender a três requisitos: (a) ser adequada ao seu propósito; (b) poder ser testada; (c) ser melhor do que as concorrentes. Em relação ao propósito, a utilização da hipótese deve permitir a dedução da condição de problema original. Quanto a se testar a hipótese, deve-se cumprir os seguintes atributos: não exigir técnicas indisponíveis; não exigir técnicas que desafiem leis físicas ou psicológicas conhecidas; ter conseqüências ou derivativos que possam ser deduzidos para fins de teste. Por fim, quanto ao terceiro atributo, tem-se que a hipótese é melhor que as concorrentes se: tiver maior variedade; explicar mais fatos; explicar uma maior variedade de fatos; for mais simples.

Como se trata, neste caso, de uma hipótese estatística, julga-se fundamental que o pesquisador consiga testar a hipótese proposta. Neste ponto, Gil (1996), fortemente inspirado em Hatt (1969) e McGuian (1976), apresenta seis características lógicas para uma hipótese, as quais estão listadas no quadro abaixo.

Quadro 2 – Características da hipótese aplicável


Características Descrição básica
1. Deve ser
conceitualmente clara
Os conceitos contidos na hipótese, particularmente os
referentes a variáveis, precisam estar claramente definidos.
2. Deve ser
específica
Muitas hipóteses são conceitualmente claras, mas são
expressas em termos tão gerais, e com objetivo tão
pretensioso, que não podem ser verificadas.
3. Deve ter
referências empíricas
As hipóteses que envolvem julgamentos de valor não podem
ser adequadamente testadas. Palavras como “bom”,
“mau”, “deve” e “deveria” não conduzem à verificação empírica
e devem ser evitadas
...

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