Uma reflexão sobre a construção do conhecimento

AutorJosé Elemar Noronha
CargoProfessor da Faculdade da Serra Gaúcha. Bacharel em Ciências Políticas e Econômicas pela UFSM. Especialista em Pesquisa pela UNIFRA e Mestre em Desenvolvimento Regional pela UNISC

Não. Não tenho caminho novo. O que tenho de novo é o jeito de caminhar. (Thiago de Mello)

O ano 2000 marcou a passagem para um novo milênio. É um marco que opera como um delimitador simbólico. Um ponto de passagem entre dois tempos e, como tal, suscetível a impasses e travessias. Vivemos um tempo em que o homem sofre e atua, gera e reproduz as transformações do seu locus cultural e social, aspirado na vertiginosidade das mudanças, seja como autor inconsciente, ou mais atuado do que ator.

Dissociado, alienado ou consternado, vê o mundo em que vive como um estrangeiro na sua cidade, como conseqüência da revolução dos paradigmas e da crise ética da contemporaneidade. O cientista, o pensador, o clínico, o operador jurídico, o educador não escapam dessa consternação, com o agravante de serem agentes principais de seus efeitos, pois produzem os discursos que os determinam.

O homem médio olha atônito para a sua circunstância; o psicanalista se interroga sobre as novas formas sintomais, suas causas e conseqüências; o operador jurídico - sem discernir soluções claras - vê a lei do mais forte ocupar o lugar de uma lei mais forte. As religiões tradicionais assistem à captura de seus fiéis por uma infinidade multicolor de seitas, crenças e misticismos vários, ou fazem vistas grossas à coabitação da sua grei com aqueles, num sincretismo extravagante.

Os antropólogos tentam conceitualizar os efeitos imaginários da desaparição dos ritos simbólicos de iniciação, que ordenavam as culturas de modo mais ou menos estável, enquanto os sociólogos tentam cernir os paradigmas que respondem pela forçada inclusão do monodiscurso da globalização, irrompendo e arrasando as diferenças culturais.

Em paralelo, sob a cartilha neoliberal e sua aparentemente fácil aplicação universal, nada mais se ordena sob os cânones particularizados de cada nação, reinando uma imprevisibilidade radical, que da noite para o dia vira pelo avesso as economias de países e regiões inteiras, com suas seqüelas no social e no cultural.

Fim dos tempos, numa perspectiva mística? Fim das ideologias? Fim da história? Fim da era das certezas nas diferentes visões teóricas?... ou mais uma volta apenas na roda do tempo que, na sua torção, resignifica velhos ideais tomados como verdades e paradigmas superados considerados saberes? Caos ou constatação do real da incerteza? Momento de impasse, então... exigência de travessia, exercício de reflexão, jornada irrenunciável.

Cremos que todo o educador da atualidade tem a consciência de que um de seus principais papéis é o de preparar o aluno para a vida, com habilidade, competência, tecnologia e responsabilidade social.

O que é preparar o aluno para a vida senão desenvolver habilidades e competências? E a tecnologia? É possível no mundo globalizado, desregulamentado, volátil, convergente, com fronteiras tênues entre os setores, com padrões e com o fim da intermediação nos negócios, viver sem a tecnolo¬gia? Como iremos sobreviver sem o desenvolvimento de nossas habilidades de relacionamento pessoal e interpessoal, sem a responsabilidade social e a ética com a comunidade? A resposta real, todos conhecemos: não há como sobreviver!

Morin (1984) aponta para a necessidade de mudança de perspectiva diante dos fragmentos de um mundo que desponta para um novo milênio, com a preocupação da conciliação da humanidade com o cosmos, não a partir da síntese e da redução, mas da amplitude do pensamento e das ações, para se viver a complexidade.

Seguramente, nos últimos cem anos, não nos preparamos ou não fomos preparados para as mudanças que estavam ocorrendo na sociedade e, somente agora despertamos para essa realidade. Fica então o grande desa¬fio: estamos todos nós, educadores, preparados para assumir essa responsabilidade?

A busca do "ser" e do "saber" uno e múltiplo nos revela uma ciência que mais do que a detentora de verdades absolutas e imutáveis, nos aponta para um caminho de novas descobertas e novas verdades que aceitam a complexidade como uma realidade reveladora, em que o ser humano é ao mesmo tempo sujeito e objeto de sua própria construção e do mundo (Ibidem).

Complexidade é a qualidade do que é complexo. Complexus, em latim, significa o que abrange vários elementos ou várias partes. É um conjunto de circunstâncias, ou coisas interdependentes, que apresentam ligação entre si. Tratase da congregação de elementos que são membros e partícipes do todo. O todo é uma unidade complexa. E o todo não se reduz a mera soma dos elementos que constituem as partes. É mais do que isto, pois cada parte apresenta a sua...

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